Sexta-feira, 24 de Julho de 2009
Hoje lia-se assim no Público online:
“Este processo, apesar de difícil, conflituoso e turbulento, chegou a resultados positivos. A avaliação é hoje um facto incontornável nas escolas, a progressão deixou de ser automática e há uma diferenciação dos professores. Nada disto existia”, afirmou a ministra.
A senhora Ministra da Educação consegue fazer-me espumar…
1. “A avaliação é hoje um facto incontornável nas escolas” – Pois, é um facto que se fala muito na avaliação de desempenho nas escolas. Não é que funcione, mas fala-se nela. Não é que tenha nexo, mas fala-se nela. Não é que seja uma coisa séria, mas fala-se nela. A avaliação é uma espécie de tema de conversa de café, nas escolas, de facto.
2. “a progressão deixou de ser automática” – Alguma vez foi automática? Sempre me lembro de ver todos os colegas preocupados com os créditos de formação, para poderem progredir. Aliás, lembro-me bem de uma fase da minha vida em que as coisas me corriam menos bem, e, tendo-me atrasado quase um ano a fazer o relatório crítico, esse foi o tempo que perdi para sempre na progressão da minha carreira. Automática, o tanas!
3. “há uma diferenciação dos professores” – Há, sim. Diferenciam-se os podres e os desavergonhados, por exemplo. Os que se aproveitam de um modelo-faz-de-conta mal concebido e de uma maioria de professores a recusarem-no, para tentarem, qual oportunidade única na vida, obter uma classificação de Muito Bom ou Excelente. Assim aconteceu na minha escola, com uma professora egoísta e de mau feitio, que conseguiu o Muito Bom. Ninguém lhe reconhece qualidades ou virtudes, antes pelo contrário, sempre com o seu egoísmo acentuado.
Este modelo-faz-de-conta tem destas coisas. Uma professora que nem sequer empresta materiais pedagógicos aos seus colegas e não sabe trabalhar em equipa, obtém um Muito Bom. Uma professora que é uma nódoa em todos os aspectos, chega a professora titular e, consequentemente, avaliadora. Enfim, é só farsas.
Quarta-feira, 26 de Março de 2008
Não quero ser mal pensante, mas não me sai da cabeça a ideia de que não foram poucas as pessoas que esfregaram as mãos de contentamento quando viram aquele triste vídeo de uma aluna do Porto a lutar com uma professora pela posse de um telemóvel, em plena sala de aula.
Não quero ser mal dizente, mas não me sai da cabeça a ideia de que a ministra e a sua equipa foram dos que mais esfregaram as mãos de contentamento. Depois deste trio, vejo todos aqueles comentadores que acham que todo o mal do mundo está nos professores, na falta de outro bode expiatório mais a jeito.
Vejo aquelas pessoas com má formação pessoal, que se divertem a ver qualquer ícone de autoridade ser confrontado e humilhado, com o pensamento minorca de quem julga que se trata apenas de uma cena envolvendo meia dúzia de protagonistas, incapazes de ver mais além, de ver como é a própria sociedade que está a ser confrontada e humilhada.
Quem esfrega as mãos, é um fervoroso adepto do célebre sistema social pomposamente denominado anarquia-para-todos-menos-eu-que-sou-quem-depois-quer-mandar-aqui. E o país está cheio destes adeptos, disfarçados de comentadores.
Sinto-lhes as mãos quentes de tanto esfregar. A baba a escorrer pelo canto da boca. A teoria da culpabilidade da professora, na ponta da língua. A desculpabilização da grotesca aluna, como tese de um mestrado em defesa dos coitadinhos e das vítimas da sociedade, que não têm culpa de nada.
Terça-feira, 25 de Março de 2008
Era uma vez um país em que havia uma empresa de venda de livros. Os vendedores andavam de porta em porta, procurando fazer clientes. De vez em quando, com mais frequência do que o desejado, os vendedores eram insultados, mal tratados e, até, agredidos por potenciais clientes. O patrão da empresa, indignava-se com os repetidos ataques aos seus vendedores. Afinal, estavam todos no mesmo barco, e era óbvio que vendedores de pé atrás não fariam muitas vendas, até porque se sentiriam desmotivados. O patrão sabia disso e procurava solucionar os problemas. Não era só a produtividade dos seus vendedores que estava em causa, mas, também, o bom nome da sua empresa. O patrão batia-se pelos seus vendedores, dando a cara por eles e defendendo-os publicamente.
Era uma vez um país em que havia um exército comandado por um general. Entre as várias missões, os soldados tinham que prestar auxílio à população, em casos de incêndios, de cheias, de falta de abastecimentos, etc. Apesar da nobreza da missão, os soldados eram frequentemente insultados, mal tratados e, até, agredidos por cidadãos a quem tentavam ajudar. Não podiam ripostar, pois tratava-se de civis. O general, obviamente, mostrava-se altamente indignado com a situação. Era missão do seu exercido que acabava comprometida. Eram os seus homens que, no terreno, eram sujeitos aos ataques de alguns cidadãos. Era o seu exército que estava em causa e o qual ele comandava. O general fazia saber, a toda a população, a sua indignação e a sua revolta, dando a cara pelos seus homens, defendendo-os, indo para o terreno.
Era uma vez um país em que havia uma instituição com um director. O prestígio e a produtividade da instituição eram afectados pelas situações em que os seus agentes eram insultados, mal tratados e, até, agredidos pelas pessoas a quem prestavam o serviço. O mesmo carinho que o director tinha pela instituição, tinha com para com os seus funcionários, e não havia situação em que ele não interviesse para defender os seus funcionários e a sua instituição, não se poupando a manifestações públicas de indignação e exigindo sempre a penalização dos que protagonizassem esses ataques.
Era uma vez um país em que havia uma equipa de futebol, com um presidente e um treinador. Blá blá blá…
Era uma vez um país em que havia isto e aquilo. Blá blá blá…
E, claro, era uma vez um país chamado Portugal, onde existe um ministério liderado por uma ministra e dois secretários. Os funcionários desse ministério, que exercem uma das funções mais nobres da sociedade, são frequentemente insultados, mal tratados e, até, agredidos pelos destinatários dessa nobre função. Ao contrário dos outros países, aqui a ministra e os seus secretários não saem em defesa dos seus funcionários. Aqui, a ministra e os seus secretários nem sequer se mostram indignados com qualquer situação em que os seus funcionários sejam agredidos de alguma forma. A ministra e os seus secretários fazem de conta que não é nada com eles. Mesmo que não queiram, o facto é que é o seu ministério que sai afectado, na sua imagem e credibilidade, quando algum funcionário é atacado. Aliás, a impressão que dá, é que os funcionários deste ministério não têm um patrão, sequer. Porque, normalmente, qualquer patrão que se preze defenderá os seus funcionários, se estes forem atacados no cumprimento das suas funções, ainda por cima dentro das instalações que são pertença do próprio ministério.
Segunda-feira, 10 de Março de 2008
(chegado por e-mail)
“Como muitos de vós sabem, este ano lectivo sou formador do PNEP – Programa Nacional do Ensino do Português – um programa da DGIDC que está directamente dependente do Gabinete da Ministra da Educação.
Para os dias 7 e 8 de Março estava marcada, já desde o mês de Setembro, uma acção de formação de âmbito nacional, a decorrer na Curia, e que envolvia todos os formadores do país. Sabendo que ia estar entre professores, procurei encontrar uma forma de, mesmo longe, poder manifestar a minha Indignação.
No dia 8 de manhã, quando saímos de um dos módulos da formação, para minha surpresa (minha e dos 120 professores presentes), apareceu a ministra.
Pelo menos metade dos professores presentes prescindiu do café e recusou-se a entrar na sala onde ela estava. Um quarto de hora depois, o grupo dividiu-se por 4 salas e retomou a ordem de trabalhos. A qual foi interrompida pela visita da ministra, que visitou cada uma das salas e dirigiu algumas palavras aos professores.
Por mim, esperei que ela acabasse de falar e levantei-me de seguida, despindo a camisola que trazia e deixando à mostra a t-shirt que tinha por baixo (e que tencionava exibir apenas no período da tarde). Podem vê-la na foto que vai em anexo.
E foi assim que, mesmo não participando na Marcha da Indignação, muito provavelmente, fui o único professor do país que, no dia 8 de Março, conseguiu demonstrar a seu descontentamento frente a frente com a Ministra da Educação, tornando-me o manifestante n.º 80.001 (ou 100.001, segundo algumas opiniões).”
Chegado à escola, o relato de uma colega que também esteve na mesma acção de Formação. A ministra apareceu no bar, talvez para apanhar a pausa nos trabalhos. A notícia desagradou à maioria, que não puseram lá os pés. Alguns comentavam que se ela ficasse para o almoço, então iam almoçar fora. A ministra foi às salas dar umas palavrinhas aos professores. Estes, continuavam a olhar para baixo, para os papéis na mesa. Outros, mais assanhados, viraram-se de costas para a senhora. Não é boa educação, confesso, mas antes isso que mandar umas bocas em voz alta. A ministra despediu-se desejando bom trabalho, mas apenas os professores das Escolas Superiores de Educação (os formadores, portanto) responderam. No final, parece que os 120 bateram palmas ao colega da tshirt. Bofetada de luva branca, foi o sentimento.
Terça-feira, 26 de Fevereiro de 2008
Ontem perdi metade da terceira parte do espectáculo, quando a transmissão via site da RTP saltou do “Prós e Contras” para outra coisa qualquer, assim de um momento para outro, inexplicavelmente. Não ter TV em casa dá nisto.
Sobre o espectáculo em si, sobram-me dois comentários:
1. Perdeu-se uma oportunidade de ouro para, de forma eficaz, dar uma machadada fatal nesta trapalhada de modelo de avaliação, tanto no seu conteúdo, como na sua implementação no terreno.
2. Continuo perplexo com o acontecimento em si – o espectáculo. Ingenuidade ou ignorância da minha parte, não sei, mas acho que tudo aquilo foi muito estranho. Uma ministra, ali, enfiada num estúdio com uma multidão de professores assanhados, ladeada por um desastre universitário e apoiada por meia dúzia de batedores de palmas. Em vários blogs leio que a jornalista e moderadora foi tendenciosa e manobrou o debate a favor da ministra, os meus colegas na escola partilham dessa opinião, mas eu, sinceramente, não vi nada disso. Os professores intervenientes tiveram tempo de sobra para deitarem tudo cá para fora, foi-lhes dada essa oportunidade por várias vezes e, para mim, era quanto bastava. Que jogada da ministra foi aquela? Que foi ela ali fazer, assim, sozinha?