Segunda-feira, 12 de Abril de 2010

Milagres…

Notícia no Jornal de Notícias, em www.jn.pt (12Abr2010)

 

Educação e formação recupera 30 mil jovens

 

Medida dá competências escolares e sociais para afastar da exclusão.

 

Dez mil pessoas vão participar na estafeta "Pobreza e Exclusão: Eu Passo!" que começa amanhã, correndo 1800 quilómetros em 30 dias e divulgando o Programa Integrado de Educação e Formação (PIEF), que abrangeu 30 mil jovens em situação ou risco de exclusão.

 

Iniciativa do Programa da Inclusão e Cidadania (PIEC), a estafeta (ver "caixa" com pormenores") mobiliza 142 grupos-turma da Medida PIEF, frequentada, no ano lectivo em curso, por 2130 jovens entre os 15 e os 18 anos.

 

Recorde-se que o PIEF, lançado há dez anos como instrumento de combate ao abandono escolar e ao trabalho infantil, pretende favorecer o cumprimento da escolaridade obrigatória associada a uma qualificação profissional para jovens entre os 16 e os 18 anos em situação ou em risco de exclusão social que não concluíram a escolaridade obrigatória (9.º ano).

 

Para muitos, "é a última oportunidade, sem a qual a situação seria passagem à delinquência", observa a coordenadora nacional do PIEC, Fátima Matos. Mas não é a solução de fim de linha, assegura, porque para muitos tem garantido a reintegração no ensino regular e até o prosseguimento de estudos para o ensino superior.

 

Integrado em grupos-turma de pequena dimensão (15 alunos) e heterogéneos (com histórias de vida diferentes e um dos três primeiros ciclos por completar - e há muitos sem o primeiro), cada aluno tem um plano de educação e formação (PEF) próprio e individualizado, tendo em conta aspectos como idade, interesses e necessidades de inserção social e escolar.

 

Além da certificação escolar célere (dois anos para concluir o 3.º ciclo do ensino básico), o plano procura assegurar actividades complementares de desenvolvimento de competências de carácter vocacional.

 

"É uma medida muito especial porque é uma espécie de fato à medida de cada um", comenta Fátima Matos, que classifica como "muito positivas" as "consequências na vida dos jovens, sobretudo ao nível das competências para a vida e a integração plena, adquirindo autonomia e tornando-se capazes de procurar emprego".

 

Dos cerca de 45 mil jovens sinalizados, nomeadamente pelas comissões locais de protecção de crianças e jovens, até 2008 (oito anos de vigência), cerca de 30 mil foram encaminhados para a medida PIEF. Muitos não tinham concluído sequer o 1.º ciclo, tendo abandonado o ensino precocemente. Um problema que ainda hoje se sente: calcula-se que todos os anos 10 jovens saiam do sistema antes de concluir a escolaridade obrigatória.

 

Segundo a última avaliação da medida PIEF, em 2008, a taxa de êxito, isto é, a percentagem dos alunos que obtiveram a certificação escolar do 9.º ano de escolaridade, era de 60%. As suas áreas de formação vocacional preferencial repartiam-se entre a mecânica, auxiliar de educação, geriatria, electricidade, informática, estética/cabeleireiro, jardinagem e restauração.

 

Uns foram encaminhados para a formação profissional, outros regressaram ao ensino regular e houve quem prosseguisse para o ensino superior, atesta Fátima Matos, embora não tenha dados estatísticos. Só na próxima avaliação, o PIEC deverá aferir quantitativamente os resultados concretos na vida dos alunos, que continua a ser acompanhada por equipas multidisciplinares.

 

É um facto que nunca tive contacto com alunos de uma turma PIEF. Mas, pelo que dizem os meus colegas que já tiveram a experiência, é coisa bem mais “pesada” que os CEF, devido ao calibre dos alunos em questão.

 

Desagrada-me profundamente o modo de operar desde jornalismo, que dá como factos aquilo que não são mais do que mensagens de propaganda: “Educação e formação recupera 30 mil jovens” e “Medida dá competências escolares e sociais para afastar da exclusão”. Se 30 mil foram encaminhados para o PIEF, mas só 60% tiveram êxito, não consigo vislumbrar a recuperação anunciada… Quanto às competências, bem, está na moda, tudo o que tiver a palavra “competência” misturada é sinal de modernidade e ai de quem duvidar!

 

Mas é bom que agora comece uma campanha de propaganda dos méritos obscuros das medidas educativas da última década, como que a anunciar que, se o que até aqui foi feito teve excelentes resultados, é porque há que continuar a inventar coisas novas e tal. A Educação sai cara, mas, com o devido jeitinho, pode-se fazer a coisa por muito menos dinheiro, enquanto ninguém der por nada nem se queixar… a ver vamos!

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publicado por pedro-na-escola às 21:45
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Segunda-feira, 24 de Agosto de 2009

Redução para metade – numerologia

Numerologia é o estudo das influências e qualidades místicas dos números.”

in Wikipédia
 
Segundo o Ministério da Educação, 7,7% dos alunos do Ensino Básico ficaram retidos no final do ano lectivo de 2008/2009. Não duvido.
 
Tal como no caso dos exames nacionais, vou dar asas à imaginação e projectar um valor fictício para um insucesso indesejável, tomando por base a realidade da minha escola.
 
Primeiro, considero que o insucesso escolar ocorre quando um aluno não adquire as competências e conhecimentos previstos no sistema de ensino para alunos sem deficiências intelectuais. Em linguagem simples, quando um aluno não quis aprender o que lhe tentaram ensinar.
 
Segundo, considero que “possuir o 9º ano de escolaridade” significa estar provido das competências e conhecimentos previstos no sistema de ensino para alunos sem deficiências intelectuais. Em linguagem simples, ter estudado para ter o 9º ano.
 
Terceiro, considero que cerca de 20% dos alunos estão em turmas de CEF ou PCA. No ano que agora vai começar, a minha escola vai ter quase 30% dos alunos nestas condições, mas isso agora não interessa.
 
Quarto, considero que 3% dos alunos estão em turmas de CEF ou PCA, mas, se estivessem numa turma do ensino regular, teriam algumas hipóteses de transitar, com esforço e dedicação.
 
Quinto, considero que as taxas de retenção divulgadas pelo Ministério da Educação incluem os alunos das turmas de CEF e PCA.
 
Sexto, considero que cerca de 6% dos alunos transitam de ano devido ao Efeito Milagre, o tal que ocorre a partir de 13 de Maio até ao final do ano. Exemplos são os alunos que passam de 10 para 3 negativas… ou os que passam de 8 para 8 negativas (para bom entendedor…).
 
Assim, qual é, de facto, a percentagem de alunos que, aparentemente, não adquiriram as competências e conhecimentos previstos no sistema de ensino para alunos sem deficiências intelectuais? Ou seja, a percentagem de alunos que, na falta de CEFs, PCAs e Milagres, ficariam retidos.
 
7,7% (currículos regulares, segundo os dados do ME)
+ 20% (CEF+PCA)
+ 6% (Milagres nos currículos regulares)
– 3% (CEF+PCA que poderiam transitar)
= 30,7%
 
Ena pá! Isto é quase o dobro… da taxa de retenção de 1996/1997! Brutal!
publicado por pedro-na-escola às 20:29
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Redução para metade

Alguns comentários de Maria de Lurdes Rodrigues sobre os resultados escolares de 2008/2009, segundo a agência Lusa:
 
"O mais importante é a redução para metade do abandono e insucesso escolar. Os dados deste ano apontam para uma redução consolidada".
 
"Atingimos valores muito significativos, que têm como consequência o aumento do número de alunos naqueles anos em que o insucesso e o abandono eram mais sentidos, naqueles anos de escolaridade em que se vinha a perder alunos há mais de uma década".
 
"Atendendo a que, no passado, a taxa de insucesso no ensino básico foi da ordem dos 14/13 por cento e que no caso do ensino secundário foi da ordem dos 35/36 por cento, o que podemos considerar é que reduzimos para metade o insucesso e o abandono em todos os níveis de ensino e em todos os ciclos de escolaridade".
 
(…) "um conjunto de medidas que permitiram às escolas e aos professores dispor dos meios para combater as dificuldades de aprendizagem e o insucesso escolar".
 
"Atribuo a medidas como os planos de recuperação, os cursos de educação e formação, generalização de currículos alternativos, o maior tempo de trabalho dos professores com os alunos, mas também a estratégias que foram desenvolvidas pelas escolas de ir buscar os alunos ao abandono".
 
"Tivemos nestes dois últimos anos, mais de 60 mil alunos que estavam fora da escolaridade obrigatória e que as escolas acolheram e procuraram criar condições para que concluíssem o nono ano".
 
Relembrando as célebres palavras do meu saudoso professor de Electrotecnia: “isto é tudo uma farsa”!
 
Por partes:
 
1. O mais importante é, de facto, e só quem é ceguinho ou labrego é que não percebe isso, a estatística! Os números! É tudo uma questão de quantidade, não se avista qualquer sinal relativo à qualidade, mas, ainda assim, insistem na farsa da “mais alunos, melhor educação”, conforme o documento de apresentação dos resultados.
 
2. O combate às dificuldades de aprendizagem é um mito, digo eu. Não há um diagnóstico feito, de forma séria e credível, sobre os alunos que, de facto, têm dificuldades de aprendizagem. Um aluno que não quer aprender, nem à chapada, entra no bolo dos alunos com “dificuldades de aprendizagem”, na falta de outra explicação lógica permitida pelo Ministério da Educação. Ou seja, falta saber quantos alunos com insucesso escolar têm mesmo dificuldades de aprendizagem.
 
3. Na minha humilde opinião, há três factores que contribuem, decididamente, para os actuais resultados estatísticos do insucesso: os CEF (sim, senhora ministra), os PCA (sim, senhora ministra) e o efeito Milagre (que ocorre, todos os anos, sensivelmente a partir do 13 de Maio, dia de Nossa Senhora de Fátima). Não mais que estes. Porque os planos de recuperação não passam de resmas de papéis inúteis e porque o tempo de trabalho dos professores com os alunos continuou o mesmo.
 
4. Quanto ao abandono, já se sabe. Os CEFs abriram as portas das escolas a milhares de malandros que, assim, puderam regressar às comunidades escolares e passaram largos de meses de intensa diversão. Nos últimos dois anos, as ordens superiores, descaradas, para que se ignorassem, de forma generalizada, as faltas dos alunos, incluindo os dos CEFs, lá deram o seu contributo para melhorar as estatísticas.
 
5. E, para ser claro, as escolas vão buscar os malandros ao abandono porque há uma lei patética que exige uma idade mínima para ingressar num CEF, sendo, pois, necessário recrutar alunos já fora do sistema para que as turmas possam abrir. 
publicado por pedro-na-escola às 19:57
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Sexta-feira, 24 de Abril de 2009

Como as faltas baixaram “milagrosamente”…

(o texto é da autoria da presidente de um órgão de gestão, bem conhecida...)

 
Só quem não está na Escolas e acompanha o seu dia a dia é que pode acreditar neste “abaixamento extraordinário” das faltas dos alunos. Perguntar-se-á: não é verdade que as faltas baixaram 22,5% relativamente ao ano passado? Resposta: Meia verdade: baixaram os registos das faltas, não baixaram as faltas.
 
O Estatuto do aluno explica esse abaixamento? Resposta: Meia verdade: os alunos continuam a faltar mas, desde que façam a prova de recuperação, as faltas voltam à “estaca zero” e só servem para efeitos estatísticos!!!
E as provas de recuperação podem suceder-se indefinidamente se os alunos forem sendo aprovados nas respectivas provas que o professor terá que elaborar quando o aluno atinge o limite de faltas previsto no Estatuto.
Casos concretos: um aluno do ensino secundário, 10º ano, tem duas vezes por semana aula de Português. Independentemente da natureza das faltas, sempre que este aluno atinge seis faltas ou tratando-se exclusivamente de faltas injustificadas atinja quatro faltas, devem-lhe ser aplicadas medidas correctivas para que, logo que estas tenham sido avaliadas, o aluno seja sujeito a uma prova de recuperação. Se este aluno fizer a prova de recuperação e tiver tido aproveitamento, as faltas, seja qual for a sua natureza, só são contabilizadas para efeitos estatísticos. E novo ciclo de faltas se pode iniciar…
 
Supomos agora que este aluno chegava atrasado às aulas e o professor lhe marcava falta, como fazia habitualmente: três situações podem ocorrer: ou marca as faltas de atraso e passa o ano a fazer provas de recuperação (afinal o aluno só não assistiu a 10 minutos de aula), ou não marca as faltas por atraso de 5 minutos e amanhã o atraso é de 10 minutos e depois de quinze, porque o aluno sabe que não terá consequências… ou, finalmente o menos expectável é que o aluno deixe de chegar atrasado.
 
Outra situação: o aluno normalmente mal comportado, tem naquele dia um comportamento incorrecto com o professor na sequência de uma recriminação feita pelo mesmo. Três casos se podem dar: ou o professor manda o aluno para fora da sala de aula com uma tarefa para cumprir e marca falta (como era hábito fazer), ou não marca falta e o aluno tem muitos mais comportamentos incorrectos porque não é penalizado ou, o que não é expectável no imediato, passa a ter comportamentos correctos…
 
Até agora foi referida a situação do aluno X mas nem todos os alunos atingem o limite de faltas ao mesmo tempo… o que significa que o professor, para além das actividades normais de preparação de aulas, de elaboração de testes formativos e sumativos, tem que fazer tantas provas de recuperação quantos os alunos que forem atingindo o limite de faltas na sua disciplina. Um professor de Português, com componente lectiva de 22 horas, se tiver turmas do 10º ano terá que ter, no mínimo cinco turmas, se cada turma tiver 28 alunos (máximo permitido por lei) este professor tem 140 alunos. Se tiver 2 ou 3 que resolvam faltar e entrar no esquema das provas de recuperação, veja-se se é viável o professor marcar faltas por atraso ou por mau comportamento!...
 
Há ainda outro factor que contribui para a estatística apresentada sobre as faltas dos alunos e que é o seguinte: Quando as aulas eram de 50 minutos, um aluno que faltasse, por exemplo, durante uma manhã tinha 5 tempos de faltas (entre as 8H30 e as 13H30). Agora, no mesmo período de tempo, o aluno tem só 3 tempos de faltas porque a unidade lectiva é de 90 minutos. Se o aluno faltar a Biologia/Geologia e a Física/Química durante uma manhã, em que as aulas funcionam por turnos e cada unidade lectiva tem 135 minutos de aula, o aluno só tem 2 faltas. Deste modo, passou-se de 5 para 3 e nalguns caso para duas faltas, o que sugere logo uma redução do número de faltas de quase de 50%.
 
Este Estatuto do Aluno permite, pois, uma leitura que não corresponde à realidade de quem está nas Escolas e, como comentava Ramiro Marques no seu blog “Profavaliação” “este estatuto é um monumento ao disparate!” O caso que descrevo a seguir apoia este comentário:
O “Mário”, matriculou-se na Escola no dia 22 de Outubro a duas disciplinas que tem em atraso, Inglês e Matemática Aplicada às Ciências Sociais (MACS), a fim de completar o 12º ano. Desde o início do ano, e já com um mês de atraso, o “Mário” devia ter assistido a 54 aulas de MACS e a 34 de Inglês, mas até dia19 de Março, só assistiu a 16 aulas de MACS (deu 38 faltas, sendo 9 injustificadas) e a 10 aulas de Inglês (deu 24 faltas a Inglês, sendo 5 injustificadas). Desde que o aluno se aproximou do número limite de faltas, a Directora de Turma passou a informá-lo (maior de idade) que tinha que comparecer a aulas de apoio para “recuperar”a matéria das aulas a que tinha faltado. O primeiro aviso, com marcação de datas para as provas de recuperação foi feito a 13 de Janeiro e desde então para cá, os avisos têm-se sucedido bem como a marcação de provas de recuperação. O aluno vem uma vez por outra às aulas curriculares, vem uma vez por outra às aulas de apoio, não fez nenhuma prova de avaliação a nenhuma destas disciplinas, fez uma prova de “recuperação” a Inglês mas sem sucesso (como seria de esperar…) e não compareceu nas restantes provas que lhe foram marcadas. (De referir que, apesar de o aluno ser maior, a mãe foi chamada à Escola para tentar, em conjunto, resolver a situação deste aluno. A mãe compareceu, mas ficou tudo na mesma…)
 
A Escola tentou tudo para que o aluno fizesse as disciplinas por frequência mas o aluno não colaborou com a Escola. Esta situação terminou com o aluno a anular a matrícula antes das reuniões de avaliação, para evitar uma exclusão por faltas que lhe retirava a hipótese de fazer exames na 1ª fase.
 
Em conclusão este Estatuto criou um mecanismo que premeia os alunos absentistas, transmitiu aos alunos e aos pais que não é importante assistir às aulas, ser pontual e cumpridor e transmitiu aos alunos e aos pais a mensagem de que tanto faz ir às aulas como faltar sem justificação, porque, no final, o aluno absentista e desleixado tem sempre mais uma prova de recuperação à sua espera…
 
Nota: as diferentes situações verificadas em diferentes Escolas, no que se refere à aplicação do Estatuto do Aluno, só são possíveis porque a lei permite diferentes interpretações.
publicado por pedro-na-escola às 00:05
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