Eu quero gestores à frente das escolas. Gestores que não percebam nada de educação, de ensino, nem de escolas. Que sejam gestores talhados para gerir infra-estruturas e recursos humanos. Quero gestores com poder absoluto. Quero, até, gestores brutos e déspotas. Quero gestores que sejam capazes de tudo para atingir objectivos. Quero gestores com carta branca. Depois, quero que o trabalho destes gestores seja desenvolvido tendo em conta dois pequenos detalhes:
1. Que as escolas que dirigem tenham objectivos e metas traçados pelo próprio Ministério da Educação, no que toca a insucesso escolar e abandono.
2. Que os alunos sejam sujeitos a exames nacionais, em todos os anos de escolaridade e a todas as disciplinas.
Para que quero este cenário dantesco?
Em pouco tempo, os gestores experimentarão todas as estratégias e mais algumas, para atingir os seus objectivos, malhando no habitual bode expiatório da educação: os professores. Obrigá-los-ão a trabalhar o dobro do tempo dentro da escola, despedirão quase todos renovando os quadros, perseguirão, humilharão, pressionarão, atacarão, e muitas outras coisas acabadas em “ão”. Farão o pino, o impossível e o indecoroso.
Ao fim de 2 ou 3 anos, o insucesso e o abandono continuarão na mesma. Os gestores chegarão à conclusão a que nós já chegámos há muito tempo, sobre o problema do ensino em Portugal. E, aí, apontarão o dedo ao sítio certo. Aí, não serão professores a dar a errada imagem de quem sacode a culpa para longe. Aí, a sociedade terá que aceitar que não se consegue mexer uma palha no nosso sistema de ensino, se não se mexer com firmeza nas famílias dos nossos alunos. Se não se lhes exigir resultados.