Há já mais de dez anos que prefiro que os meus alunos não tenham manual de Matemática. Infelizmente, nunca foi possível, mas confesso que anos houve em que pouco ou nada o usaram. Considero os manuais confusos, atafulhados, e longe de satisfazerem as minhas necessidades enquanto professor.
Ocorrem-me duas situações que vivi: um belo dia, estava eu já na universidade, fui confrontado com uma dúvida do meu irmão, aluno do 1º ciclo, no seu manual de Matemática, dúvida que não fui capaz de esclarecer porque simplesmente não consegui encontrar sentido ou nexo na pergunta; enquanto dava explicações de Matemática a uma aluna do 11º ano, quis exemplificar como ela devia usar o manual para consultar a teoria para poder resolver um determinado exercício, mas andei que nem uma barata tonta à procura do que queria no meio de uma total confusão de teorias, exemplos, bonecos, “à partes”, etc.
Quanto a exercícios e problemas, todos os anos me confronto com a inadequação das propostas dos manuais, face aos alunos que tenho. Trepa-se demasiado depressa no grau de dificuldade e falta o trabalho de repetição tão necessário. Enfim.
Preferia, de longe, não adoptar manual algum, e ter o “trabalho” de fornecer aos alunos toda a documentação teórica e prática, necessária para o desenvolvimento de todas as actividades da disciplina, dentro e fora da sala de aula. Documentação adaptada aos meus alunos.
Ainda não consegui perceber se o processo necessário para uma escola não adoptar manual em determinada disciplina é algo a roçar o medonho, ou se é de todo impraticável. Porque, por aqui, a vontade de não adoptar manual é mais que muita. E o assédio recente tem ajudado a esta vontade.
Outro dia, fui a duas sessões de apresentação de manuais da Porto Editora. Na segunda sessão, já com os manuais dos três projectos (?!) da editora a serem oferecidos em pastas, fomos confrontados com o inesperado menos bom humor da última autora a apresentar a sua proposta: perante o “público”, mostrou-se completamente desagradada por ter sido a última a apresentar, logo com menos “público”, pelo que, assim, iria ter menos vendas que os autores anteriores, sendo prejudicada. Ficámos a pensar que a senhora não estaria na total posse do bom senso que lhe deveria assistir.
Junte-se, a esta cena, o “assédio presencial” de representantes de uma certa editora, que até afirmam a pé juntos que a adopção de manuais é obrigatória (ainda estou para tirar isto “a limpo”).
Mas, o mais extraordinário tem sido o “assédio agressivo” das editoras, no envio de exemplares dos manuais para minha casa. Este ano, os manuais são enviados em CTT Expresso e tenho recebido e-mails e SMS a alertar para esse facto. A parte da agressividade advém, no meu ponto de vista, do conteúdo dos e-mails, que informam que os pacotes não conseguiram ser-me entregues pessoalmente (pudera, passo os dias na escola) e que, por isso, se encontram na estação dos CTT à espera de serem levantados... Noutra fase do “campeonato”, eu chamaria a isto um sinal de “bom serviço”, mas, dada a conjectura actual, soa-me a um desespero doentio.
Junte-se, ainda, comentários (com ou sem fundamento, não sei) que circulam por aqui e por ali, de que as editoras têm intenções de levar a tribunal escolas que não tenham escolhido as suas propostas, recorrendo às avaliações “menos consistentes” dos manuais feitas pelos professores.
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