Imaginemos que sou professor de Matemática e tenho uma turma com 30 alunos. Dá para imaginar? Nem por isso. É preciso especificar melhor quem são esses 30 alunos.
Hipótese 1:
São 30 alunos cujos pais exigem comportamento civilizado e bons resultados. Os alunos sabem que estão na escola para aprender e que as regras são para ser respeitadas, assim como os adultos. Dos 30, há 5 que têm capacidades intelectuais abaixo da média, mas, com uma boa gestão das aulas e dos recursos, ora com a colaboração dos colegas, ora com mais atenção da minha parte, consegue-se compensar facilmente as suas menores capacidades. Eventualmente, se fossem apenas 20 alunos, eu conseguiria dar mais atenção aos alunos menos capazes. Ainda assim, não me chateava nada que a turma tivesse os 30.
Hipótese 2:
São 30 alunos… mas, 5 têm capacidades abaixo da média, 5 têm pais que não lhes exigem nada na vida e 5 são filhos de pais com dinheiro para pagar explicações a todas as disciplinas. Sobram 10, cujos pais poderão, num esforço, pagar explicações a Matemática e 5 que provêm de famílias economicamente desfavorecidas, embora tenham expectativas e exijam resultados e comportamentos. Os 5 “índios”, cujos pais não exigem nada, fazem das aulas um circo permanente: falam uns com os outros, levantam-se, batem nos colegas, recusam-se trabalhar, atiram papéis, usam o telemóvel, tratam professores e funcionários como se fossem cães de rua, etc. Não há medida disciplina que valha, porque regressam sempre à sala de aula, sem qualquer consequência séria para eles ou para os pais. Neste permanente estado caótico, os 5 alunos com poucas capacidades são literalmente arrumados a um canto e esquecidos. Os 5 filhos de pais com posses, resolvem o problema com as explicações. Outros 10, também podem resolver o problema com explicações a Matemática. Os 5 de famílias desfavorecidas, coitados, acabam por ficar arrumados a um canto, no meio da balbúrdia incessante. Convém referir que, neste circo, eu, como professor de Matemática, tenho dois principais objectivos: evitar que alguém saia ferido e dar a matéria do respectivo ano de escolaridade. A batalha diária é conseguir gerir (leia-se amenizar) conflitos e fazer alguns exercícios no quadro. Se a turma fosse de apenas 15 alunos, com jeitinho, talvez houvesse apenas 2 índios e 2 alunos com capacidades abaixo da média. Com jeitinho, o circo seria mais discreto e os 2 ou 3 alunos de famílias desfavorecidas conseguiam tirar mais proveito das aulas.
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