Quinta-feira, 1 de Outubro de 2009

Avaliação feita por entidades externas

O colega Carlos Santos, do blog “O valor das ideias” que passou por aqui um dia destes, deixou o desafio para eu, como colega e democrata, dizer o que penso sobre o modelo de avaliação proposto pelo Francisco Louça. Começo pelo post dele sobre o assunto:
 
Cai a máscara do BE como defensor dos professores!
Há minutos, fora do pregão do culto que tanto o caracteriza, perante as câmaras de televisão e depois de acossado com a pergunta, de Louçã lá veio a resposta fatal.
"O BE defende uma avaliação de professores formulada por entidades externas, por institutos".
Finalmente caiu a máscara ao líder do BE. Os professores ficam agora a saber que o dr Louçã não defende a auto-avaliação como os professores e as suas associações de classe pretendem. O dr Louçã defende o essencial do modelo do PSD, uma avaliação externa à escola, feita por entidades contratadas para o efeito. Estou certo que este é o último modelo de avaliação que os professores podem vir a querer. Outsourcing, nunca, é o que sempre tenho ouvido dos professores.
Mas ainda é tempo das organizações sindicais se pronunciarem sobre esta proposta de Louçã. Se o interesse e o esclarecimento dos professores valer, claro está, mais que o interesse partidário das organizações políticas em que alguns militam.
http://ovalordasideias.blogspot.com em 25 de Setembro de 2009
 
Uma coisa, é uma ideia que se defende. Outra coisa, é a forma como se traduz essa ideia num diploma e como depois se operacionaliza. Sócrates foi pródigo em propagandear uma ideia e depois legislar com base noutra ideia não tão nobre. Pelo menos, na Educação.
 
A única experiência que tenho sobre avaliação feita por entidades externas foi quando tive, na minha escola, uma equipa de Avaliação Externa do Ministério da Educação. A maior parte dos meus colegas andou semanas a fio com o estômago embrulhado, atormentados com o pesadelo da presença de inspectores na escola, a bisbilhotarem os cantinhos todos e a desenterrarem todos os defeitos possíveis e imaginários. Pela minha parte, andava ansioso por ver como seria, feito ingénuo, crendo que a equipa viria com boas intenções, numa perspectiva pedagógica e sem intenções de “malhar” na malta. Sei que, num grande número de escolas, montou-se um autêntico circo para acolher os inspectores, com dezenas de reuniões preparatórias para forçar uma linguagem comum e minimamente coerente que fizesse um brilharete. Na minha escola, optou-se por fazer a coisa a cru, sem qualquer espécie de preparação. Arriscado, portanto.
 
A equipa (dois inspectores e um professor universitário) veio, afinal, mesmo com uma atitude pedagógica. Tinham o seu “caderno de encargos” bem definido, fizeram as perguntas todas que tinham para fazer, ouviram quem quiseram, e até fizemos o favor de lhes atirar daqueles alunos de levar as mãos à cabeça. Foram impecáveis, alertaram-nos para uma série de pormenores, apontaram faróis em determinadas direcções (conforme as orientações que tinham) e deram-nos conselhos interessantíssimos. Pela parte que me toca, adorei a experiência.
 
Esta foi uma avaliação externa, sim, mas tutelada pela Inspecção Geral da Educação. A ideia, a bem dizer, era avaliar o serviço que a escola presta à sociedade. Não vi que houvesse qualquer outro motivo obscuro a assistir àquela intervenção da IGE. A partir do relatório final, fizemos um plano de melhoria que nos levasse, numa nova avaliação externa, a ter melhores resultados.
 
À partida, não vejo que haja algum problema em as escolas serem avaliadas por uma entidade externa. Partindo do princípio, portanto, que essa entidade tenha regras claras e transparentes, e não seja orientada por motivações obscuras. Sócrates era menino para, numa coisa destas, lançar mais uma patetice, do tipo exigir que só haja X por cento de escolas com Muito Bom na avaliação, ou que o resultado dessa avaliação possa influenciar os gastos com as remunerações dos docentes. A ideia não é dele, mas como a patetice está na moda… nunca se sabe…
 
Mas, isto foi uma avaliação da escola, enquanto entidade, e não dos professores individualmente. Aqui, tenho muitas reservas, e tanto faz ser uma entidade interna como externa. É que, avaliar professores, é uma tarefa extremamente complexa e subjectiva.
 
O que é um bom professor? O que é um professor muito bom? O que é uma boa aula? A entidade que avalia pode ter um padrão de aula que acha que é o ideal, mas não há um modelo de aula ideal. Cada turma é diferente, os alunos são diferentes, e os professores procuram adaptar-se a essa diversidade. Como é que uma entidade externa vai avaliar os professores, indivíduo a indivíduo? Através de pilhas de papel “relevadoras”? Que formação tiveram as pessoas que vão às escolas avaliar? Vão aceitar como credíveis e relevadoras duas ou três aulas a que assistem? Terão sensibilidade para saber a diferença entre uma aula com uma turma do currículo regular e outra com uma turma de currículo alternativo ou CEF? Tentarão “atacar” cegamente pelas estatísticas?
 
De uma forma resumida, eu diria que vejo com bons olhos uma avaliação externa à escola, mas tenho muitas reservas sobre a presença de alguém na minha sala de aula, a avaliar-me, porque esse alguém pode não fazer a mínima ideia do que é dar aulas a uma turma em determinado grau de ensino, ou, mesmo sabendo, pode ter a mania convicta que a sua forma de dar aulas é a melhor, a única e a ideal.
 
Infelizmente, falar vagamente em avaliação externa é pedir uma carta branca para se inventar algo que pode ir desde um modelo bem concebido e coerente, até um profundo disparate.
publicado por pedro-na-escola às 19:00
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