«Tivemos muitas vezes um clima em que toda e qualquer medida ou anúncio era sempre tomado como ataque à condição dos professores ou como negativo para o sistema educativo. Há dificuldades de comunicação, entendimento e de percepção das medidas, e isso não é um problema exclusivamente dos sindicatos» - palavras da Ministra da Educação, captadas por jornalistas da TSF na Escola Secundária de Albufeira, a 02/09/2009.
Uma medida tomada como um “ataque à condição dos professores”? Nada disso! Muitas medidas foram, de facto, um ataque ao bom senso de qualquer profissional.
Inventar uma ideia de avaliação em que há profissionais que têm uma determinada pontuação pelo seu desempenho, mas que depois recebem uma menção (que é o que conta e não a pontuação) inferior, só porque há aquela aberração das quotas, é um ataque ao bom senso dos professores e à sua condição profissional.
Distribuir, quase que gratuitamente, a condição de avaliador a profissionais que não foram, eles próprios, avaliados, correndo-se o sério risco – em vários casos, confirmou-se mesmo – de o avaliado ser um bom profissional que é sujeito à avaliação de um mau profissional, é um ataque ao bom senso dos professores e à sua condição profissional.
Dividir os professores em duas pseudo-carreiras, promovendo à “mais alta” os professores mais idosos, por puro procedimento administrativo, anunciando aos quatro ventos que estava a ser criado um “corpo qualificado de docentes”, é um ataque ao bom senso dos professores e à sua condição profissional.
Um anúncio tomado como “negativo para o sistema educativo”? Nada disso! Foram anunciadas medidas realmente negativas para o sistema educativo.
Convencer a regressar às escolas centenas de vândalos, com o único propósito de fazer um brilharete estatístico ao nível do abandono escolar, é mesmo uma medida negativa para o sistema educativo.
Remodelar um Estatuto do Aluno em função do supremo interesse estatístico, abolindo, disfarçadamente, as faltas de qualquer espécie, é mesmo uma medida negativa para o sistema educativo.
Meter no mesmo saco alunos que se estão nas tintas para a escola (eles e os pais) e alunos com dificuldades de aprendizagem, insinuando ao povo que o remédio santo para todos eles é o plano de recuperação ou acompanhamento, é mesmo uma medida negativa para o sistema educativo.
Obrigar as escolas a alimentar as “aulas de substituição”, fazendo crer que, com isso, há um benefício estrondoso, quando, na verdade, contribui para o aumento de situações de indisciplina e falta de “válvulas de escape” para os alunos, é mesmo uma medida negativa para o sistema educativo.
Oferecer gratuitamente, ou quase, computadores a milhares de alunos, que, assim, receberam do Estado um brinquedo caro com que gastam todo o tempo e mais algum, incluindo o que deviam dedicar ao estudo, é mesmo uma medida negativa para o sistema educativo.
E por aí fora.
Coisa que não houve, de certeza absoluta, foi dificuldades de comunicação! Os professores entenderam as medidas na perfeição e percepcionaram o alcance de cada uma e os seus obscuros objectivos.
Quanto aos sindicatos, o grande problema com o Governo Sócrates foi, precisamente, os sindicatos terem sido ultrapassados pelos próprios professores.