Só me apetece suspirar. Está bem que esta ideia genial fazia parte do programa de governação do Sócrates e que o povo votou maioritariamente nele. Mas…
A alusão que a senhora ministra fez à produção de Jaguares, apesar de criticada e apesar de aparentemente soar a patetice crónica, pareceu-me extremamente feliz.
Feliz, porque assim ficamos todos a saber que a senhora ministra pensa que a escola portuguesa é como uma fábrica de Jaguares. Ou seja, a senhora ministra, tal como as pessoas que a aconselham, vive na Lua.
Mas, vamos fazer de conta que a escola portuguesa é uma fábrica da Jaguar!
A escola portuguesa fabrica veículos, portanto. Da misteriosa marca Jaguar. Em alguns cantos da fábrica, onde há matéria-prima capaz e alguma paz e sossego, fazem-se carros bem jeitosos, alguns verdadeiros Jaguares certamente. Noutros cantos da fábrica, onde a matéria-prima mais parece o refugo de algum sucateiro, os operários lá fazem umas trotinetes e uns carrinhos-de-rolamentos, todos convenientemente rotulados com a marca do felino. Há zonas da fábrica expostas ao frio, ao vento e à chuva. Há operários de quem se espera que construam um Jaguar de luxo com uma caixa de ovos vazia e um chinelo. Há cantos da fábrica que são o refúgio de delinquentes e toxicodependentes, que não são expulsos porque não fica bem à administração da fábrica, preocupadíssima com questões sociais. Aqui e acolá, de vez em quando, com um pouco de sorte e engenho dos operários, consegue-se transformar um bocado de sucata num veículo pronto para a estrada. Mas, só de vez em quando.
Ora, um rasgo de genialidade barata ditou que esta milagrosa fábrica deverá aumentar a produção em 30000 unidades. Os génios acham que os operários são suficientes e que a fábrica continuará a produzir Jaguares sem que esse aumento acarrete qualquer problema. Aliás esses mesmos génios estão convencidos que todos os veículos produzidos são umas grandes “bombas”, de luxo. A realidade: mais sucata a encher as prateleiras, atrapalhando a produtividade e a qualidade do trabalho. Um chamariz para mais delinquentes, que mais facilmente se disfarçam no meio da bagunça. Aos poucos, e a menos que se vedem zonas da fábrica, a bagunça tenderá a generalizar-se. Às tantas, quase não haverá espaço para construir um bom bólide, por causa da sucata empilhada por todo o lado e das incursões dos delinquentes que vegetam por ali. E sossego, menos ainda. Contudo, e porque o povo é lerdo, os veículos continuarão a ser produzidos, nem que sejam apenas carrinhos-de-rolamentos, nem que saiam da fábrica já com os motores gripados, mas todos devidamente rotulados com o Jaguar.
Aliás… o que interessa mesmo é o rótulo: Jaguar. Para a fotografia. Porque o desempenho é completamente irrelevante.