(…) Perante isto, cabe analisar os currículos e programas destes graus de Ensino. O currículo do 3º ciclo do Básico, engloba, nada mais, nada menos, do que 14 disciplinas diferentes! É óbvio que tantas actividades distintas põem a cabeça dos miúdos num rodopio! Mais surpreendentes são os conteúdos programáticos e a filosofia a eles subjacente.(…)
Não tenho dúvidas de que os nossos programas são responsáveis, em parte, pela iliteracia dos nossos alunos cidadãos.
À boa maneira portuguesa, é tudo feito com o pressuposto de que a quantidade é a solução para todos os males. Os programas, assim como o currículo, apostam na quantidade. Mais uma vez, os olhos do mundo estão postos em nós, portugueses. Pelo menos, na opinião dos iluminados que elaboram os programas e os currículos.
Pessoalmente, acho que só abri os olhos para esta perspectiva da quantidade, depois de receber alunos de outros países e de ouvir os seus comentários sobre as diferenças entre a escola lá e a escola cá, no que toca a programas e currículos. E como é que um jovem de 13 ou 14 anos se pronuncia sobre diferenças em programas e currículos? Simples: comentando sobre a pressa que os professores portugueses têm de avançar com as matérias. Ou seja, a importância do cumprimento dos programas que se sobrepõe à importância da consolidação das aprendizagens. A vitória da quantidade sobre a qualidade.
Na minha disciplina, a Matemática, isso é bem notório. É tudo dado a correr. Não sobra muito tempo para explorar situações reais aplicando os conteúdos. As coisas acabam por ser tratadas “pela rama”. Ainda os alunos estão começando a consolidar uma matéria e já se está a avançar para a seguinte.
Ainda na Matemática, há “fenómenos” que deviam dar que pensar. É o caso das matérias leccionadas no 6º ano, que voltam a ser leccionadas no 7º ano, ficando o professor do 7º ano com a impressão de que nunca foram dadas no 6º ano. Se, para cúmulo, o professor do 7º ano assessorar (no âmbito do plano de acção da Matemática) o professor do 6º ano, apercebendo-se que essas matérias no 6º ano são leccionadas em profundidade, então a coisa dá mesmo muito que pensar. Valerá a pena abordar determinados conteúdos em anos anteriores? Não seria preferível dar menos matéria, mas aproveitar para aplicá-la em mais casos reais, com mais calma, envolvendo-a em problemas e contextos que desenvolvam o raciocínio e a capacidade para encontrar soluções? Parece que não.
À boa maneira portuguesa, interessa é os programas serem cada vez mais precoces. E grandes! Porque assim somos os maiores e os olhos do mundo estão postos em nós…