Há dias, um supostamente competente psicólogo ligado à área da educação, prestava-se a uma palestra sobre aquelas coisas bonitas da educação para as quais não parece haver solução. Um dos diapositivos apresentados, tentava explicar à plateia descrente os motivos para o insucesso dos alunos. O abandono vem por arrasto, dizia, mas também arranjou mais meia dúzia de motivos. Enfim, os psicólogos e os sociólogos e os “ólogos” que vivem dessa máquina misteriosa que é a educação, são mestres na arte de encontrar mil e uma causas para um problema, para que, logo a seguir, se inventem outras tantas soluções, numa amálgama de ideias e medidas que, passados uns tempos e pousada a poeira, se revelam inúteis. Olhei para o diapositivo sobre as causas do insucesso e espantei-me por não encontrar uma única que se enquadre na realidade dos miúdos que me têm passado pelas mãos. E decidi armar-me em psicólogo e sociólogo e “ólogo” de qualquer coisa e fazer, também, uma lista de causas para o insucesso e para o abandono. As limitações que me assistem, não me deixaram ir além de uma causa única, foleira e rudimentar. O insucesso acontece porque, fora uma percentagem muito diminuta da população escolar, os alunos têm uma tendência natural para o insucesso. Ser bem sucedido implica esforço mental: estudar, estar com atenção, ler, raciocinar, pesquisar, pensar, reler, memorizar, descobrir o porquê, rever, etc. E, como é sabido, o esforço mental cansa o ser humano. Portanto, se cansa, é melhor não fazer, até porque não dá milhões, nem sequer amendoins. Fora aquela tal percentagem diminuta, os deveres inerentes à profissão de estudante não fazem qualquer sentido e apenas servem para maçar as crianças e os jovens. O que os faz cumprir – uns mais, outros menos – com os seus deveres de estudante, são os pais (ou, leia-se, os encarregados de educação), que a isso os obrigam. Não havendo esta pressão hierárquica, surge o insucesso, obviamente. Basta vacilar na convicção, facilitar, aceitar o fracasso como natural, e lá se vai a pressão. Não vale a pena falar em motivação, porque, para a maioria dos alunos, a “motivação” é apenas essa pressão. Pela mesma ordem de ideias, o abandono tem causa idêntica. Enquanto vencer a pressão familiar, anda-se na escola. Mal a pressão perca o braço de ferro com o infinito desejo de liberdade do jovem, dá-se o abandono. Por tal se justifica que o sucesso dependa, quase exclusivamente, do papel dos pais. Penso eu de que. Incrível, é como se pode querer mexer de forma séria e pujante na educação, sem mexer com o factor que mais influencia o sucesso, a disciplina e tudo o mais: os pais!