Segunda-feira, 31 de Agosto de 2009

Tranquilidade da treta

Como a Ministra da Educação se chama Maria de Lurdes Rodrigues, obviamente que o ano lectivo arrancou com a maior das tranquilidades. Só podia!
 
O que passo a descrever pode não ter muito interesse para quem esteja alheio à gestão de uma escola, mas, seja como for, e porque me irrita profundamente, aqui fica por escrito. Para quem está por colocar, pode até ter muito interesse, pelas piores razões.
 
Ao longo do verão, com a calma que os irritantes e sucessivos pedidos de preenchimento de aplicações online permitem, vamos fazendo a distribuição do serviço pelos professores do quadro e somando horas para outros horários que seguirão para concurso. O nosso desejo, sempre, é que o mês de Setembro arranque com os professores todos na escola – para que todos participem em todas as reuniões, desde o início. Infelizmente, nunca se consegue.
 
Este ano, fomos chamados a “pedir os horários” cerca de uma semana mais cedo do que no ano passado. No entanto, não foi por isso que as colocações saíram mais cedo. Com tanta informatização de processos, escapa-me o calendário de publicação das colocações.
 
Todos os anos há uma (ou mais) “surpresa” guardada pela DGRHE. Se num ano a surpresa foi não colocarem ninguém em horários incompletos no final de Agosto, este ano uma das surpresas foi não colocarem os não profissionalizados. Tudo bem que os não profissionalizados não podiam concorrer, isso já era sabido, mas é irritante ficar-se com professores por colocar no arranque do ano lectivo.
 
Os horários para os quais não houve colocação no final de Agosto, passaram, pelos vistos, para contratação de escola. Essa passagem não nos foi muito óbvia e ainda não percebemos como a coisa vai funcionar. Mas, se nos orientarmos pelo ano passado, a DGRHE vai ignorar por completo os horários que pedimos mas que não tiveram colocação, para depois voltar a perguntar-nos: então, que horários precisam? Há dias em que isto chateia!
 
Bom, sobrando a contratação de escola, tratar de recrutar os professores em falta é uma daquelas coisas que, quanto mais depressa, melhor. A DGRHE disponibilizou uma aplicação para o efeito, atempadamente, e rapidamente tratámos de a utilizar para o recrutamento dos professores em falta, bem como dos técnicos especializados para leccionar áreas tecnológicas dos CEF. Se tudo corresse bem, e avançando com o processo de contratação de escola logo a seguir à publicação das listas, no final de Agosto, teríamos todos os professores colocados antes do início das aulas, eventualmente até com alguma antecedência.
 
Mas, as coisas não correram nada bem. Havia mais uma “surpresa” à espera. Os horários para os técnicos especializados, depois de submetidos, não apareceram – evaporaram-se! A aplicação dava (e ainda dá) um erro que indica que a consulta dos horários não está disponível. Como se isso não bastasse, a aplicação não permite que se coloquem a concurso horários dos vários grupos de recrutamento – só permite para técnicos especializados ou para o desenvolvimento de projectos. O tempo passa e o mês de Agosto chega ao fim. Fica a expectativa de uma reunião na Direcção Regional de Educação, marcada para os primeiros dias de Setembro, para abordar o tema do recrutamento. Conformamo-nos com mais um trabalho mal feito e o tempo a passar.
 
Enquanto engonhamos a nadar no conformismo, um colega passa pela escola para anunciar, animado, que concorreu aos nossos horários de técnicos especializados! Afinal, pasme-se, não “desapareceram em combate”. Eles vivem! Perante o meu ar incrédulo, o colega acedeu à aplicação e mostrou os nossos horários no meio de centenas de outros.
 
Minutos depois, apareceu outro colega a perguntar se não íamos colocar a concurso um horário do seu grupo de recrutamento, ao que respondi que tínhamos um para colocar, mas que a aplicação não permitia. Qual não foi o meu espanto quando ele entrou na aplicação e me mostrou quase duas dezenas de horários para o grupo dele! Algo não batia certo.
 
Apontei algumas das escolas que tinham horários a concurso e comecei a fazer telefonemas. Conclusão: há, de facto, um erro misterioso na aplicação, que não permite recrutar professores para os vários grupos de recrutamento. As escolas que já têm horários a concurso, também encontraram o mesmo erro, mas foi solucionado (o termo usado foi “desbloqueado”) pelas respectivas Equipas de Apoio às Escolas, após reclamação.
 
A nós, resta-nos “melgar” também a nossa Equipa de Apoio às Escolas, já a seguir, para vermos se temos alguma sorte.
 
Na prática, os horários que estão a aparecer na contratação de escola foram colocados por escolas “desbloqueadas”. Quem concorre, imagina que aquele seja o panorama nacional e faz opções. Daqui a alguns dias, presumo, vão surgir os horários das escolas actualmente “bloqueadas”. Não é preciso explicar mais para se perceber a facilidade com que a DGRHE despreza a importância das colocações na vida de milhares de professores e as injustiças que surgirão como cogumelos.
publicado por pedro-na-escola às 22:26
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Domingo, 30 de Agosto de 2009

Objectivos mínimos

 

Ainda a propósito do programa eleitoral do PSD para a Educação, saquei esta prioridade:
 
“Privilegiaremos, em relação ao (in)sucesso estatístico, a definição e verificação, preferencialmente por entidades exteriores à escola, de objectivos mínimos para o respectivo ano ou ciclo de estudos, com o objectivo de estimular a aprendizagem e apontar exemplos de sucesso.”
 
Digo eu, que sou escutado pelo Estado, sobre assuntos relativos à Educação, como se a minha profissão fosse barbeiro, que isso dos objectivos mínimos é mais do mesmo, na patética onda dos números.
 
Para combater, mesmo, mesmo, mesmo, mesmo, o insucesso estatístico, o que o Estado tem de fazer – e este é o único caminho racional, a meu ver – é acabar com alguns direitos! A saber:
 
- Acabar com o direito dos alunos a não quererem aprender!
 
- Acabar com o direito dos alunos a prejudicarem as aprendizagens dos colegas, bastas vezes com reflexos negativos para o resto do percurso escolar destes.
 
- Acabar com o direito das famílias a que os seus rebentos “andem” simplesmente na escola, sem qualquer outro dever.
 
publicado por pedro-na-escola às 23:35
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Sábado, 29 de Agosto de 2009

Corrida aos plágios e às tretas

Abriu a corrida aos plágios e às tretas, na sequência da misteriosa prova pública que dá um bilhete de entrada para o novo e misterioso concurso para acesso à categoria de professor titular.

 
Supostamente, a larga maioria dos professores está contra a divisão da carreira, contra o modelo-faz-de-conta de avaliação de desempenho, contra a ministra e os seus secretários de estado, e mais uma série de coisas. Mas, quer-me parecer que está quase tudo a mandar-se para a prova pública.
 
Porquê? Por causa do dinheiro, claro. Na nossa classe não há a desejada união, por causa do dinheiro. Se querermos ser, algum dia, uma classe unida, o caminho para lá chegar passará obrigatoriamente pelo dinheiro. O dinheiro que cai mensalmente na nossa conta, entenda-se.
 
Quanto ao bonito trabalho escrito que serve de base à prova pública, o que mais vai haver é plágios e tretas. Plágios de trabalhos de pós-graduações e mestrados, plágios de outros trabalhos, e tretas, muitas tretas. Quem já começou a fazer o seu – e vários colegas confessaram-me já terem o trabalho pronto -, ri-se das tretas que para lá largou, umas copiadas do colega do lado, outras tiradas da internet, outras muito inventadas entre duas gargalhadas. Até há trabalhos em conjunto, aproveitando o facto de as provas virem a ser defendidas em distritos diferentes.
 
A noção de que bastam umas quantas tretas cor-de-rosa por escrito e dois dedos de conversa fiada para arrumar a prova, parece generalizada.
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publicado por pedro-na-escola às 23:42
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Sexta-feira, 28 de Agosto de 2009

O PSD e os termos actuais

Estava a ler um post do Ramiro, a propósito do programa eleitoral do PSD para a Educação, quando me veio à memória a conversa à mesa no almoço de hoje.
 
No blog do Ramiro (www.profblog.org) pode ler-se assim:
 
“Fim da divisão da carreira (nos termos actuais, isto é com a categoria de professor e a categoria de titular). Não foi isto que fomos dizer a Lisboa por três vezes? Não foi essa a principal exigência dos sindicatos e dos movimentos independentes dos professores?”
 
No site do PSD (www.politicadeverdade.com), a parte que diz respeito a este tema é exactamente assim:
 
“Reveremos o Estatuto da Carreira Docente, nomeadamente no respeitante ao regime de progressão na carreira, corrigindo as injustiças do modelo vigente e abolindo a divisão, nos termos actuais, na carreira docente”.
 
Ora, a conversa à mesa do almoço de hoje versava, precisamente, sobre as potencialidades dos “termos actuais”, que deixam margem de manobra para muita coisa.
 
Eu sei que isto já parece um preciosismo rebuscado de análise, mas, convenhamos, se fosse para acabar com a divisão da carreira, não seria mais simples dizer apenas “abolindo a divisão na carreira docente”?
 
É que, a bem dizer, abolir a divisão na carreira docente, nos termos em que está, pode significar, também, passar a ter outra divisão! Por exemplo, uma carreira dividida em professor, professor titular e professor super-titular!...
 
Abolir esta divisão na carreira, implica regredir (por mais positivo que isso seja) administrativamente em muitos aspectos. A ideia do PSD é mesmo essa? A ideia é abolir a divisão ou apenas alterá-la, só para não ficar nos termos actuais?
publicado por pedro-na-escola às 18:14
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Segunda-feira, 24 de Agosto de 2009

Redução para metade – numerologia

Numerologia é o estudo das influências e qualidades místicas dos números.”

in Wikipédia
 
Segundo o Ministério da Educação, 7,7% dos alunos do Ensino Básico ficaram retidos no final do ano lectivo de 2008/2009. Não duvido.
 
Tal como no caso dos exames nacionais, vou dar asas à imaginação e projectar um valor fictício para um insucesso indesejável, tomando por base a realidade da minha escola.
 
Primeiro, considero que o insucesso escolar ocorre quando um aluno não adquire as competências e conhecimentos previstos no sistema de ensino para alunos sem deficiências intelectuais. Em linguagem simples, quando um aluno não quis aprender o que lhe tentaram ensinar.
 
Segundo, considero que “possuir o 9º ano de escolaridade” significa estar provido das competências e conhecimentos previstos no sistema de ensino para alunos sem deficiências intelectuais. Em linguagem simples, ter estudado para ter o 9º ano.
 
Terceiro, considero que cerca de 20% dos alunos estão em turmas de CEF ou PCA. No ano que agora vai começar, a minha escola vai ter quase 30% dos alunos nestas condições, mas isso agora não interessa.
 
Quarto, considero que 3% dos alunos estão em turmas de CEF ou PCA, mas, se estivessem numa turma do ensino regular, teriam algumas hipóteses de transitar, com esforço e dedicação.
 
Quinto, considero que as taxas de retenção divulgadas pelo Ministério da Educação incluem os alunos das turmas de CEF e PCA.
 
Sexto, considero que cerca de 6% dos alunos transitam de ano devido ao Efeito Milagre, o tal que ocorre a partir de 13 de Maio até ao final do ano. Exemplos são os alunos que passam de 10 para 3 negativas… ou os que passam de 8 para 8 negativas (para bom entendedor…).
 
Assim, qual é, de facto, a percentagem de alunos que, aparentemente, não adquiriram as competências e conhecimentos previstos no sistema de ensino para alunos sem deficiências intelectuais? Ou seja, a percentagem de alunos que, na falta de CEFs, PCAs e Milagres, ficariam retidos.
 
7,7% (currículos regulares, segundo os dados do ME)
+ 20% (CEF+PCA)
+ 6% (Milagres nos currículos regulares)
– 3% (CEF+PCA que poderiam transitar)
= 30,7%
 
Ena pá! Isto é quase o dobro… da taxa de retenção de 1996/1997! Brutal!
publicado por pedro-na-escola às 20:29
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Redução para metade

Alguns comentários de Maria de Lurdes Rodrigues sobre os resultados escolares de 2008/2009, segundo a agência Lusa:
 
"O mais importante é a redução para metade do abandono e insucesso escolar. Os dados deste ano apontam para uma redução consolidada".
 
"Atingimos valores muito significativos, que têm como consequência o aumento do número de alunos naqueles anos em que o insucesso e o abandono eram mais sentidos, naqueles anos de escolaridade em que se vinha a perder alunos há mais de uma década".
 
"Atendendo a que, no passado, a taxa de insucesso no ensino básico foi da ordem dos 14/13 por cento e que no caso do ensino secundário foi da ordem dos 35/36 por cento, o que podemos considerar é que reduzimos para metade o insucesso e o abandono em todos os níveis de ensino e em todos os ciclos de escolaridade".
 
(…) "um conjunto de medidas que permitiram às escolas e aos professores dispor dos meios para combater as dificuldades de aprendizagem e o insucesso escolar".
 
"Atribuo a medidas como os planos de recuperação, os cursos de educação e formação, generalização de currículos alternativos, o maior tempo de trabalho dos professores com os alunos, mas também a estratégias que foram desenvolvidas pelas escolas de ir buscar os alunos ao abandono".
 
"Tivemos nestes dois últimos anos, mais de 60 mil alunos que estavam fora da escolaridade obrigatória e que as escolas acolheram e procuraram criar condições para que concluíssem o nono ano".
 
Relembrando as célebres palavras do meu saudoso professor de Electrotecnia: “isto é tudo uma farsa”!
 
Por partes:
 
1. O mais importante é, de facto, e só quem é ceguinho ou labrego é que não percebe isso, a estatística! Os números! É tudo uma questão de quantidade, não se avista qualquer sinal relativo à qualidade, mas, ainda assim, insistem na farsa da “mais alunos, melhor educação”, conforme o documento de apresentação dos resultados.
 
2. O combate às dificuldades de aprendizagem é um mito, digo eu. Não há um diagnóstico feito, de forma séria e credível, sobre os alunos que, de facto, têm dificuldades de aprendizagem. Um aluno que não quer aprender, nem à chapada, entra no bolo dos alunos com “dificuldades de aprendizagem”, na falta de outra explicação lógica permitida pelo Ministério da Educação. Ou seja, falta saber quantos alunos com insucesso escolar têm mesmo dificuldades de aprendizagem.
 
3. Na minha humilde opinião, há três factores que contribuem, decididamente, para os actuais resultados estatísticos do insucesso: os CEF (sim, senhora ministra), os PCA (sim, senhora ministra) e o efeito Milagre (que ocorre, todos os anos, sensivelmente a partir do 13 de Maio, dia de Nossa Senhora de Fátima). Não mais que estes. Porque os planos de recuperação não passam de resmas de papéis inúteis e porque o tempo de trabalho dos professores com os alunos continuou o mesmo.
 
4. Quanto ao abandono, já se sabe. Os CEFs abriram as portas das escolas a milhares de malandros que, assim, puderam regressar às comunidades escolares e passaram largos de meses de intensa diversão. Nos últimos dois anos, as ordens superiores, descaradas, para que se ignorassem, de forma generalizada, as faltas dos alunos, incluindo os dos CEFs, lá deram o seu contributo para melhorar as estatísticas.
 
5. E, para ser claro, as escolas vão buscar os malandros ao abandono porque há uma lei patética que exige uma idade mínima para ingressar num CEF, sendo, pois, necessário recrutar alunos já fora do sistema para que as turmas possam abrir. 
publicado por pedro-na-escola às 19:57
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Quarta-feira, 19 de Agosto de 2009

Titulares - igualdades… ou não!

A propósito do novo concurso para a categoria de professor titular e da prova pública necessária, dá vontade de bater em alguém.
 
Há dois aspectos, nesta nova palhaçada, que, a meu ver, são de realçar:
 
1 – Igualdade de oportunidades
 
Quando as coisas são mal feitas, está o caminho aberto para as injustiças. Neste caso, os primeiros a aceder à categoria de professor titular apenas tiveram que somar uns quantos pontos, num processo administrativo assegurado pelas secretarias.
 
Os próximos, terão que ser sujeitos a uma prova pública só para se poderem candidatar! Esta disparidade, não faz sentido nenhum.
 
Para as coisas serem feitas com o mínimo de lógica, era preciso que os primeiros a aceder à categoria tivessem passado pelo mesmo que os próximos vão passar. Assim, teremos nas escolas dois tipos de professores titulares: os primeiros, sortudos, e os outros, que prestaram prova. Mas, convenhamos que, nesta onda reformista da Educação, pouco há que seja feito com alguma lógica...
 
2 – Objectivo da prova pública
 
No Decreto-Lei n.º 104/2008, que legisla sobre a prova pública e o concurso, pode ler-se assim: “(…) podem requerer a realização da prova pública, que se destina a demonstrar a sua aptidão para o exercício específico das funções de professor titular, concretizando -se na apresentação de um trabalho pelo candidato e respectiva discussão, sobre a experiência do quotidiano escolar vivida no exercício efectivo de funções docentes.”
 
E quais são as funções de professor titular? No mesmo documento, algumas linhas antes, vem tudo explicado: “A categoria de professor titular consubstancia-se portanto no desempenho de funções no âmbito da coordenação, supervisão pedagógica e avaliação do desempenho dos restantes professores (…)”
 
Assim, divagar por escrito “sobre a experiência do quotidiano escolar vivida no exercício efectivo de funções docentes” e, de seguida, discutir sobre essa divagação com um júri, permite demonstrar a aptidão para desempenhar funções de coordenação, supervisão pedagógica e avaliação do desempenho dos outros professores.
 
Vejamos: eu faço um trabalho escrito sobre a minha experiência como professor de Matemática, discuto-o com um júri, e este consegue decidir sobre a minha aptidão para coordenar, supervisionar e avaliar outros professores? Esta gente, que inventa e escreve estas coisas, tem problemas intelectuais… só pode!
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publicado por pedro-na-escola às 13:03
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Sexta-feira, 7 de Agosto de 2009

Louçã e a igualdade de oportunidades

- "O que o programa diz é que a educação é um serviço público, ponto de partida para a igualdade de oportunidades, e que tem de haver uma qualificação e uma exigência que passa por respeitar os princípios do funcionamento da escola como comunidade, por valorizar o trabalho dos professores e por ser muito exigente em relação a eles".
 
Gosto particularmente da referência à igualdade de oportunidades! Desde há vários anos que está na moda e fica bem falar sobre este tema. Curiosamente, tenho a ideia de que, quanto mais se inventa para aumentar a igualdade de oportunidades, mais crescem as desigualdades.
 
Um miúdo que tenha o azar de calhar numa turma com dois ou três colegas “avariados”, com pais “avariados”, nunca terá as mesmas oportunidades de aprender do que o amigo que ficou numa turma onde não há alunos “avariados”! O Estado encarrega-se de garantir que esses alunos “malucos” podem continuar, impunemente e de sorrisos rasgados, a impedir que os alunos normais e interessados aprendam com qualidade. A nossa política educativa é, acima de tudo, uma política que favorece a desigualdade de oportunidades de aprender. A probabilidade de encontrar uma turma com alunos “avariados”, onde as boas aprendizagens são uma miragem, é sobejamente maior que a probabilidade de encontrar um mau professor.
publicado por pedro-na-escola às 07:50
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Quinta-feira, 6 de Agosto de 2009

Louçã e o Eduquês

- “A noção de eduquês foi inventada com algum acinte por teóricos da ofensiva liberal contra o ensino". Palavras de Louçã, segundo se consta.
 
Ah!, foi inventada? É capaz... Parece que “eduquês” não tem lugar no dicionário de língua portuguesa, por isso, só pode ser algo inventado.
 
Mas, antes de alguém inventar o termo e o conceito - porque onde há fumo, há fogo -, outrem desatou numa desenfreada produção de teorias sobre os jovens, teorias sobre a função dos professores, teorias sobre o papel da escola, teorias sobre as teorias e, à custa disso, de muitos livros, muitas teses, muitas palestras e muitos artigos. Sobre uma coisa aparentemente tão simples: ensinar numa escola.
 
É, mais ou menos, como pegar num par de cuecas velhas e sobre tal escrever quatro teses de doutoramento , publicar uma vintena de livros e calcorrear o país dando palestras sobre o assunto. Assim nasceria o “cuequês”...
 
Aquilo a que os professores (que estão no terreno, entenda-se) chamam “eduquês", é um conjunto de ideias sobre aquilo que a escola e os professores poderiam fazer, para colmatar o que a sociedade não conseguiu fazer. A preocupação das cabeças pensantes do “eduquês" é a substituição quase completa do papel da escola. O “ensino” deu lugar à “educação”. O “conhecimento” deu lugar às “competências”. O "estudante" deu lugar ao "aluno". O receio da visibilidade pública do falhanço das ideias do “eduquês" dá lugar a mais ideias. Enfim. São disparates atrás de disparates. As escolas e os professores, reféns, limitam-se a colocar na prática as ideias. Estas, não são avaliadas publicamente, mas vão aparecendo sempre outras mais recentes, que ora complicam as vigentes, ora as revogam. Andamos nisto há décadas!
 
Mas é bom ouvir Louçã dizer que “Não podemos pedir à escola que faça tudo o que a sociedade não consegue fazer.” Pena é que seja apenas uma frase…
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publicado por pedro-na-escola às 17:40
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Quarta-feira, 5 de Agosto de 2009

Combate ao facilitismo e outras aventuras

Consta que uma das prioridades do “Programa Eleitoral para as eleições legislativas“ do PSD é a Educação. A saber:
 
“A educação é a base do livre desenvolvimento da pessoa, o alicerce de todo o nosso desenvolvimento económico, social e cultural. O combate ao facilitismo e a recuperação do prestígio dos professores serão linhas mestras do nosso programa de acção.”
 
Mas que coisa é essa do “facilitismo”?
 
Combater o quê, concretamente?
 
Se for para combater o fraco nível de exigência dos alunos do ensino básico, isso implica aumentar o nível de exigência e as consequências serão óbvias: mais reprovações. Porquê mais reprovações? Por causa da inércia intelectual, claro.
 
Se for para combater o êxodo de alunos para percursos alternativos, sejam turmas de PCA ou CEF, percursos esses que permitem uma progressão sem grande esforço e consequentes lacunas nas competências de final de ciclo, então o regresso ao currículo regular ditará, também, as consequências do costume: mais reprovações.
 
E, tendo em conta que o povo português não se importa minimamente que os jovens sejam qualificados com competências que, de facto, não têm, então, teremos a continuidade da política do “faz-de-conta”, a bem da grande e única missão dos grandes partidos políticos: mais votos para poder continuar no poder.
 
Já agora, ocorre-me que, pretendendo combater algo a que chamam facilitismo, o remédio passará, parece-me, pelo oposto: dificuldades. Ou, numa linguagem mais rebuscada: exigência. Isto, partindo do princípio que a exigência e as dificuldades são necessárias à formação de bons profissionais (todos os jovens acabarão por ser profissionais de qualquer coisa), apesar de muita gente achar que não.
 
Assim sendo, qual é o caminho a seguir para aumentar a exigência no nosso sistema de ensino público? Algum há-de ser. Mas, se for para seguir os conselhos dos conselheiros dos últimos anos, o resultado serão mais umas medidas de faz-de-conta, com teorias infundamentadas, para “inglês ver”, mais ou menos rebuscadas, sem resultados práticos. Porque assim tem sido as últimas décadas.
 
Duvido que seja desta que se lancem medidas, no sistema de ensino, que envolvam, de facto, os pais.
 
Quem está no terreno, sabe perfeitamente que a prestação dos alunos depende quase sempre dos respectivos pais. São raras as excepções. Porque, por trás dos casos de insucesso estão, quase sempre, pais que se demitiram de controlar e de exigir. Porque, por trás dos casos de sucesso estão, quase sempre, pais que não se demitem de controlar e de exigir.
 
Quem está no terreno, também sabe que as habilitações académicas e o nível económico dos pais são praticamente irrelevantes. Porque, embora fechemos os olhos a essa realidade, o que não faltam são alunos cujos pais não têm mais que o 5º ou 6º ano, mas que, mesmo assim, são excelentes alunos. Aliás, o que não falta, na sociedade, é casos de licenciados, mestres e doutores, provenientes de famílias humildes e com baixas ou nenhumas habilitações académicas.
 
Há quem vá buscar a desculpa dos pais divorciados, para justificar algum insucesso, mas, a bem dizer, não faltam casos de pais divorciados cujos filhos nunca foram afectados seriamente nos seus percursos escolares.
 
Na prática, o que conta mesmo é o que os pais fazem em casa: o controlo que exercem, aquilo que exigem e as expectativas. Tudo o resto torna-se irrelevante.
 
Não se vislumbra, nas décadas mais próximas, partido político algum que esteja disposto a implicar realmente os pais no sistema de ensino. Exigir que prestem contas pelo mau desempenho dos filhos, com consequências.
 
Enquanto uma parte significativa dos pais dos alunos portugueses continuar a achar que tem o direito de deixar andar os filhos na escola como querem e lhes apetece, mesmo que isso prejudique gravemente as aprendizagens dos colegas, e esses mesmos filhos continuarem a achar que têm o direito de não aprender, então, não vamos a lado nenhum!
publicado por pedro-na-escola às 16:04
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