Terça-feira, 9 de Dezembro de 2008

Fazei cumprir

Hoje chegou-nos, por e-mail, mais uma paródia. Lá, no conselho executivo, é uma risota diária com estas mensagens do além.
 
Ex.mo(a) Senhor(a)
Presidente do Conselho Executivo/Director
O processo de avaliação de desempenho do pessoal docente deve prosseguir com normalidade em todas as escolas.
Os normativos legais que regem o processo, designadamente os Decretos Regulamentares nº 2/2008 e 11/2008, estão em vigor e neles se baseiam as alterações aos despachos recentemente enviados a todas as escolas.
A avaliação de desempenho constitui, nos termos da lei, um dever mas igualmente um direito dos docentes que tem que ser assegurado e não pode ser posto em causa nem por omissão nem por qualquer forma de coacção ou denegação. Aos órgãos de direcção cabe cumprir e fazer cumprir a legalidade nas escolas, não podendo permitir que sejam suscitadas quaisquer dúvidas sobre esta matéria.
Assim, devem os Directores ou Presidentes dos Conselhos Executivos adoptar todas as providências necessárias ao normal desenvolvimento do processo de avaliação de desempenho e desmentir informações que dêem como suspenso o processo na escola que dirigem.
Lisboa, 09 de Dezembro de 2008.
Com os melhores cumprimentos,
Direcção Geral de Recursos Humanos da Educação
 
Num dia normal, não se escrevem, nem se enviam, mensagens com este teor. Não querendo dar uma de mau feitio, limito-me a expressar o que sentimos ao ler esta mensagem: perderam o controlo e o respeito das escolas e querem, de uma forma desesperada, que os conselhos executivos sejam o braço executante e cego das directivas ministeriais. Azar!
 
Senhora Direcção Geral, ente misterioso, incógnito e inatingível: 
  • esta matéria, quando abordada por pessoas com dois dedos de testa, levanta muitas dúvidas, tanto pela seriedade com que a mesma não foi delineada, como pela forma idiota e grosseira como pretenderam colocá-la em prática;  
  • a suspensão do processo na escola que dirigimos é, então, algo que devemos ocultar… a quem?... internamente, não é uma “informação” que possamos desmentir, convenhamos…
  • essa conversa do direito dos docentes à avaliação, que tem de ser assegurado, e blá blá blá, não cola; quando arranjarem um modelo de avaliação de facto, então, sim, digam qualquer coisinha; até lá, gostava de gozar o meu direito básico a não ser bombardeado com disparates…
publicado por pedro-na-escola às 22:29
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Quinta-feira, 4 de Dezembro de 2008

Professor Militante do PS

(recebido por e-mail)

 
"Caros colegas,
 
Sou militante do PS desde 1989 e estive ontem na sede do PS, Largo do Rato.
 
Não tive a oportunidade de intervenção porque houve bastante participação.
 
Inscrevi-me, mas confesso que abdiquei da minha intervenção pois iria repetir-me. Em resumo: insistência e muita propaganda para validar o modelo a qualquer custo. A divisão da carreira é para continuar, sendo que foi demonstrado cabalmente que não corresponde ao mérito mas sim a redução de custos e que mais de 2/3 dos professores jamais a atingem. Quero deixar a mensagem que só muito poucos é que tiveram a coragem de dizer as verdades.
 
Enfim, a pressão é muita e o satus presente não permitiu que todos nos sentissemos "livres".
 
Porque sou socialista, porque acredito num verdadeiro PS e não neste, porque quero e luto por um PS mais justo, mais digno, mais fraterno... irei fazer greve assim como muito dos colegas presentes. Quero ainda dizer-vos: Este PS está aflito. Vai recorrer a tudo o que puder para levar por diante toda esta maquinação. Dizem que não podem perder a face.
 
Nós professores também não! Se ganharmos agora, ganhamos todos! Se perdermos neste momento, jamais nos levantaremos! O PS de Sócrates e não dos socialistas tudo irá fazer para nos vergar. Isto é uma certeza. Cabe-nos a nós resistir, porque resistir é vencer!
 
Aguardo melhores dias para o meu verdadeiro PS.
 
PS: Foi dito por um colega que neste momento o PS já tinha perdido a maioria e que se arriscava mesmo a perder as eleições com esta luta contra os professores. Este PS não está mesmo preocupado... e todos nós julgamos saber porquê. Quem vier a seguir que feche a porta, pois estes já têm lugar de estadia e vôo marcado para destinos definidos e bem remunerados.
 
Professor socialista que não vota neste PS.
30 de Novembro de 2008 17:58"
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publicado por pedro-na-escola às 21:33
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Quarta-feira, 3 de Dezembro de 2008

No rescaldo da greve…

Antes de me começar a influenciar pelas leituras de outros blogs, vou aproveitar para fazer, a título pessoal, um pequeno rescaldo deste dia de greve.
 
1. Foi a primeira vez que fiz greve. Não fiz greve por causa do modelo de avaliação de desempenho ou do próprio estatuto da carreira docente. O que me moveu, sinceramente, foi a minha opinião pessoal sobre o trio que lidera o Ministério da Educação: que não são pessoas sérias, honestas e com boas intenções. Opinião pessoal, repito. E a greve foi a minha forma de protestar contra a sua permanência naquelas funções e os seus disparates e palermices.
 
2. Na minha escola, e fora os professores que hoje não tinham serviço lectivo mas que ainda poderão vir a comunicar que fizeram greve, contabilizámos uma professora que não fez greve e ficou na escola, ou seja, cerca de 2%, o que corresponde a uma adesão à greve de cerca de 98%. Logo pela manhã, aos alunos foi dada ordem de regresso a suas casas, obviamente.
 
3. À hora do almoço, os canais de televisão fizeram uma passagem por várias escolas do país, praticamente todas com o mesmo panorama: esmagadora maioria de professores em greve, bem acima de 90%. Numa das escolas apresentadas, por exemplo, só não fizeram greve 3 dos 153 professores, o que dá uma adesão de cerca de 98%.
 
4. Logo de seguida, Valter Lemos discursava, com aquele ar de superioridade e desprezo, anunciando com foguetes que cerca de 90% das escolas estavam a funcionar e que a adesão à greve ficava bem aquém das expectativas dos sindicatos.
 
5. Juntando o ponto 3 com o 4, um jornalista mais atrevido comentou que não era preciso saber matemática para perceber que os números (ainda não apresentados) do Ministério da Educação não eram compatíveis com a realidade que se apalpava no terreno, à porta das escolas visitadas por vários jornalistas. Obviamente.
 
6. À noite, Valter Lemos, com a mesma postura de desprezo, apontava para uma adesão à greve de 61%, relembrando, novamente, que este número ficava bem abaixo das expectativas dos sindicatos. Eu bem que gostava de saber onde é que ele foi buscar esse valor. Depois da cena do Estatuto do Aluno, eu, pela parte que me toca, acho que o trio que tutela o ME era perfeitamente capaz de falsificar os números da adesão a seu belo interesse. É triste dizer isto, mas, depois de provas dadas, não sou capaz de acreditar na pretensa honestidade daquele trio.
 
7. Aos conselhos executivos, foi pedido o preenchimento da habitual aplicação sobre a adesão à greve. Os números foram calculados com base no número total de professores e não no número de professores que tinham serviço (lectivo ou não lectivo) no dia de greve. Esta é uma forma de baixar o valor da adesão, é certo, mas, na minha escola, foram vários os professores que, não tendo serviço no dia de greve, fizeram questão de telefonar para a secretaria e declarar que estavam em greve. 
 
8. Mesmo assim, tendo em conta os dados recolhidos pelos jornalistas (singelas amostras), os dados da minha escola e os dados de escolas com que contactámos durante o dia, não vislumbro uma explicação razoável que sustente o valor de 61% de adesão à greve. Matematicamente, seria necessário haver bastantes escolas em que só 3 ou 4 professores teriam aderido à greve, para “equilibrar” a média e produzir uma valor tão baixo como o dado por Valter Lemos. No caso de uma escola como a minha, seria necessário haver uma outra escola com apenas 24% de adesão á greve para que a média caísse para 61%.
 
9. Sobre o encerramento, ou não, das escolas, os conselhos executivos da região centro receberam um e-mail com um esclarecimento sobre o assunto, para efeitos estatísticos, a saber: se uma escola tiver ficado sem professores e, por consequência, sem alunos, mas mantenha os serviços públicos de atendimento, bar, cantina, reprografia, etc., é considerada como “em funcionamento”, não se devendo considerar “encerrada”. Do ponto de vista estatístico e propagandístico, este foi um esclarecimento oportuno, convenhamos. Como sempre.
 
10. E é escusada toda a discussão sobre a participação dos sindicatos em todo este movimento que culminou nesta monumental greve. O que moveu os professores, não foi o apelo dos sindicatos, mas, julgo, a dignidade de cada um. Os sindicatos foram levados por arrasto, na crista da onda.
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publicado por pedro-na-escola às 22:23
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Terça-feira, 2 de Dezembro de 2008

Porque faço greve

Tal como muitos colegas, amanhã, 3 de Dezembro de 2008, vou fazer greve pela primeira vez. Nunca pensei fazê-lo. Sou mais de acatar, pacatamente, as novidades emanadas de cima, quase como um cordeirinho, e executar as ordens dadas. Enfim, cada um é como cada qual. Sou mais de encolher os ombros com a falta de visão e bom senso de quem, ao longo de décadas, tem passado pela tutela do Ministério da Educação.
 
No entanto, esta faceta de “cordeirinho” só é válida enquanto presumir que quem me tutela é uma pessoa minimamente honesta, uma pessoa de bem, séria, que apenas falha nas medidas que toma, tanto porque desconhece a realidade e as realidades, como porque é aconselhada por pessoas que desconhecem a realidade e as realidades. Assim tem sido ao longo de décadas e por isso a Educação em Portugal continua a não ser grande espingarda.
 
Ora, com a actual ministra, Maria de Lurdes Rodrigues, e os seus dois secretários de estado, o panorama mudou drasticamente.
 
Pessoalmente, a gota que faltava para entornar o copo de água foi mesmo o espectáculo com a alteração do Estatuto do Aluno: uma lei que diz, claramente, que, independentemente da natureza das faltas, os alunos que faltam têm de ser sujeitos a uma prova com consequências penalizadoras, é espectacularmente alterada por um despacho dominical, disfarçado de esclarecimento, que diz que, afinal, depende da natureza das faltas a prova ter ou não consequências, e que esta até pode ser uma entrevista e não uma prova; não bastando isto, a ministra lava as suas mãos acusando as escolas de terem interpretado erradamente “o espírito” da lei. Quem faz uma jogada desta, às claras, com fanfarra e toque de sinos, não pode ser uma pessoa honesta, séria e de bem. Lamento, mas não pode!
 
A isto, junta-se o desgoverno de todo o ministério e das direcções regionais, de que me apercebo diariamente, no exercício de funções no conselho executivo da minha escola. Esta é uma apreciação algo subjectiva, eu sei, mas, no nosso gabinete, quase não passa um dia em que não olhemos uns para os outros, estupefactos com mais um desnorte vindo de cima na hierarquia do sistema.
 
A isto, juntam-se as palermices associadas ao Estatuto da Carreira Docente e ao modelo de Avaliação do Desempenho dos Docentes. E digo palermices, porque, uma coisa é o leque de opções políticas, tais como a limitação da progressão na carreira, a alteração do modelo de avaliação do desempenho, ou a mudança nas regras para gestão dos tempos não lectivos. Pode não concordar-se, mas, “come-se”. Outra coisa, bem diferente, é quando se entra no espectro da patetice e da aberração, tal como foi a forma de promoção à categoria de professor titular, a existência de quotas na avaliação, ou a inclusão dos resultados escolares como parâmetro de avaliação.
 
A isto, junte-se a fantástica fórmula das Novas Oportunidades, destinadas a certificar, ou qualificar, ou seja lá o que for que o senhor primeiro-ministro tanto adora, que mais não é do que uma farsa nacional como não há memória. Após séculos de história da humanidade, em que o objectivo da Educação e do Ensino era proporcionar conhecimentos e sabedoria, chegámos a uma nova era, em que o saber e o conhecer são espezinhados e humilhados por essa necessidade alucinante de certificar ou qualificar toda a gente, a qualquer custo, com o objectivo único da estatística.
 
A isto, junte-se o desperdício gigantesco e – pasmo! – não contabilizado, concretizado na literal oferta (ou semi-oferta) de computadores portáteis, sem qualquer critério, sem qualquer contrapartida, a todos os alunos. Com a agravante moral de, a uma escala nacional, se estar a colocar, nas mãos das crianças e jovens deste país, acesso livre e sem restrições a esse mundo cheio de perigos que é a Internet.
 
Faço greve, porque quero protestar contra o facto de ser governado por pessoas que não me merecem respeito e às quais não reconheço valores básicos como honestidade, seriedade ou boas intenções.
 
Faço greve, porque desejo, como nunca antes, e assim o quero demonstrar, que a senhora ministra e os seus dois secretários de estado abandonem as suas funções.
publicado por pedro-na-escola às 21:16
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