A vossa escola
Daniel Oliveira, no Expresso
Os professores têm toda a razão. O sistema de avaliação proposto pelo Ministério da Educação promove a injustiça, transformando em avaliador quem chegou ao topo sem ser avaliado. E assim se desacredita um instrumento fundamental para a qualificação das escolas. A ministra perdeu a oportunidade de dar uma verdadeira autonomia às escolas, continuando a fúria regulamentadora. E prepara-se para promover pequenos tiranetes nas direcções escolares. Mas, mais importante: não consegue trabalhar com os profissionais de que precisa para fazer qualquer mudança.
As reacções dos professores têm sido de justificada indignação. E nestes momentos dá-lhes para o melhor e para o pior. O melhor: protestar e, ao mesmo tempo, organizar-se para discutir o sistema educativo com o resto da sociedade. O pior: repetir, pela boca dos novos movimentos de professores, o que de mais demagógico e falso se tem dito e escrito sobre a escola pública. Que é facilitista; que, ao contrário do que acontecia no passado, se chega à Universidade sem se saber nada; que reina o caos e a indigência nas salas de aulas. É falso. Os alunos saem hoje da escola mais preparados do que saíam os seus pais e os seus avós. Hoje escreve-se melhor do que se escrevia. Lê-se mais e sabe-se mais. Investiga-se mais e melhor. Temos melhores técnicos e profissionais. Vejam todas as estatísticas: somos hoje um país mais escolarizado e melhor escolarizado. E isso foi obra da escola pública e universal e dos seus professores. Um feito conseguido em apenas trinta anos.
O pior que os professores podem fazer é cuspir no prato que eles próprios, com tanto esforço e com tão pouco reconhecimento, cozinharam. É um suicídio fazer coro com aqueles que atacando a escola pública estão, na realidade, a atacar tudo o que eles têm feito. Os professores precisam que os portugueses saibam que têm alguma coisa a defender. E têm: com muitos e graves defeitos, a escola mais democrática, universal e qualificada que o país já conheceu.
A realidade que se conhece condiciona os comentários que se fazem. Eu, se fosse professor apenas no Secundário, teria uma visão diferente da que tenho, sendo professor numa escola básica. E fosse professor universitário, como um dia fui, teria uma visão ainda mais distante, pensando que os alunos que chegam à universidade são um espelho dos que não chegam e dos que ficam pelo caminho algures entre o 6º e o 7º ano.
Mas é um facto que temos que ter cuidado com o que dizemos em praça pública. Com o que defendemos. E temos que defender, a bem da nossa profissão, o seu palco: a escola.