Quarta-feira, 31 de Março de 2010

O trauma das repetências

Consta que a senhora que escreve “literatura de cordel” para adolescentes e hoje é Ministra da Educação, afirmou pretender anular a repetência, que considera "um mal que gera conflitualidade" ...

 

O pretenso trauma causado pela repetência de ano, assim como outros pretensos traumas descobertos por psicólogos e sociólogos e outros que tais também acabados em “ólogos”, é uma excelente desculpa para tentar abafar o verdadeiro e incomodativo trauma lusitano: o de sermos um povo pobre de espírito, onde abunda a iliteracia e o desprezo por aprender, factores que justificam a nossa nada orgulhosa posição no ranking mundial. Um povo assim, comandado por sucessivos governos que preferem que o estado de coisas se mantenha e perpetue.

 

Anulando a possibilidade de repetência de ano, na escola, anula-se a necessidade de os alunos aprenderem, estudarem, evoluírem.

 

Infelizmente, a sociedade supostamente intelectual está atafulhada de pensadores que vivem convictos de que as criancinhas gostam de andar na escola, gostam de aprender e gostam de ser civilizadas. E, por conseguinte, são incapazes de perceber que só há três motivos para os alunos do ensino básico aprenderem:

 

1. Porque gostam de aprender ou têm consciência de que esse é um dever (uma minoria, na realidade).

2. Porque os pais os obrigam a aprender (porque querem que tenham boas notas para serem alguém na vida, ou porque não querem que reprovem no final do ano).

3. Porque, se não aprenderem, podem ter que repetir o ano, e isso pode dar direito a um confronto pouco amigável com os pais.

 

Ora, se o terceiro motivo for eliminado, deixa de haver consequências sérias para quem não aprende. Não havendo consequências sérias, muitos pais deixam de ter argumentos para exigir que os seus filhos aprendam.

 

Qual será, depois, o problema de se ter negativas a todas as disciplinas? Nenhum! Pois que tenha!

 

A ideia de não haver repetências só tem cabimento num país onde a generalidade da população valorize a escola e o saber, e onde reine o sentimento do dever! Num país assim, é natural que aprendizagens menos bem conseguidas num sétimo ano, possam ser colmatadas durante o oitavo e o nono ano, sem necessidade de repetência. Em Portugal, os alunos entenderiam isso como uma “carta branca” para poderem continuar a circular sem aprender, e nunca, jamais, como uma oportunidade para colmatarem falhas.

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publicado por pedro-na-escola às 18:36
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Quinta-feira, 24 de Setembro de 2009

Margarida Moreira a ministra, num fim-de-semana próximo

Aflige-me um dos resultados possíveis do próximo fim-de-semana: aquele em que Sócrates continuaria à frente do Governo. Aflige-me, porque estou dentro do sistema e sei bem as consequências, para a Educação e para o país, de cada uma das medidas obscuras lançadas por aquela cabecinha para cima das escolas. Aflige-me, mas, também tenho consciência que “temos o que merecemos” e que vamos ter o que “pedimos”...
 
Acho estranho como é que Sócrates poderá voltar a ficar à frente de um Governo, quando, à minha volta, não oiço uma única palavra de apoio. Até de empresários oiço, sistematicamente, palavras de desprezo, com predominância para “aldrabão”.
 
Contudo, há um ligeiro pormenor técnico a ter em conta... porque Sócrates tem-no em conta diariamente: este é um país onde abundam os pobres de espírito. Manobráveis, emprenham pelos olhos e pelos ouvidos com qualquer porcaria feita à medida.
 
Há professoras que dizem odiar Sócrates e admitem que vão votar nele porque... foi eleito o sexto mais elegante do mundo! Mesmo sendo aldrabão.
 
O sentido de voto no Bloco de Esquerda é mais bolachas no saco do PS, quando a necessidade apertar, se apertar. Digo eu. O “barómetro” no blog “A Educação do meu Umbigo” sugere muitos professores a votar BE.
 
A continuação de Sócrates à frente do Governo, tem uma faceta inevitável a necessária: a vingança! O alvo mais fácil, e também o mais apetecível, é o bolo de 150 mil professores, capazes de se comerem uns aos outros a troco de mais uns euros no final do mês, ou, até, a troco da perspectiva de mais uns euros no final de um mês longínquo. A personagem ideal para operacionalizar esta vingança é a tristemente célebre Margarida “bulldozer” Moreira – a mulher directora que não escreve português de Portugal.
 
Pior que a vingança sobre os professores, são as consequências para o país das orientações de Sócrates para a Educação. Os pobres de espírito, para além de não perceberem o que se está a passar, ainda batem palmas!
 
O sucesso fictício, anunciado a toques de trombone, continuará a predominar sobre os rasgos de lucidez. O sucesso, segundo as orientações de Sócrates, acontece quando se transita de ano, e não quando se tem conhecimentos. O sucesso, para este senhor, acontece quando se obtém um diploma, e não quando se adquire conhecimentos. Vamos pagar isto bem caro, daqui a uns anos!
 
Entretanto, o povo sucumbe perante o autêntico espectáculo que é a campanha eleitoral de Sócrates, conseguido à custa do meu dinheiro e do dinheiro de milhões de portugueses.
publicado por pedro-na-escola às 22:59
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Quarta-feira, 23 de Setembro de 2009

Estória mal contada II

 

HÁ 1000 NOVOS BONS ALUNOS EM PORTUGAL
 
Os resultados do projecto da Associação EPIS – Empresários Pela Inclusão Social denominado “Mediadores para o sucesso escolar”, que terminou o segundo ano de trabalho no terreno e o primeiro completo de «capacitação para o sucesso escolar», confirmam a aposta feita há cerca de 2 anos:
 
Em 2007/2008, diagnosticámos com um inovador «sistema de screening de risco» todos os alunos dos 7.º e 8.º anos de escolaridade em 10 concelhos parceiros, tendo sido analisados 20.000 jovens.
 
Com base nesse «screening», seleccionámos 6.000 jovens, cujos factores de risco escolar apontavam para a necessidade de um apoio de proximidade sistemático e estruturado, que iniciámos ainda em 2007/2008.
 
Ao longo de 2008/2009, as notas destes 6.000 alunos melhoraram sempre em todos os períodos face ao ano lectivo anterior:
 
- No 1.º Período, o número de alunos em «zona de aprovação» (ZA = 2 ou menos negativas) aumentou de 19% para 36%, uma variação de +87%.
- No 2.º Período, o número de alunos na «ZA» aumentou de 31% para 39%, uma variação de +25%.
- No 3.º Período, o número de alunos na «ZA» aumentou de 56% para 71%, uma variação de +27%.
 
O trabalho dos mediadores da EPIS ao longo dos três períodos de 2008/2009 determinou um aumento da taxa de aprovação dos alunos EPIS em 14 pontos percentuais, passando-se de 63% em 2007/2008 para 77% no ano que terminou.
 
Este resultado positivo absoluto de 14 pontos percentuais na carteira EPIS compara com uma redução do sucesso escolar em 2 pontos percentuais no restante grupo de alunos destes concelhos que não acompanhamos em proximidade, mas que monitorizamos em termos de resultados escolares.
 
Deste modo, encaramos com enorme confiança o próximo ano lectivo de 2009/2010, na expectativa de que a curva de aprendizagem nos permita superar os resultados atingidos este ano e aumentar a base de cobertura da EPIS a nível nacional, em parceria com o Ministério da Educação e com as Autarquias.
 
www.epis.pt
 
Um aumento percentual dos resultados do 1º período, de um ano para o outro, já me parece algo mais substancial e muito positivo.
 
Resta saber, já que não reparei nessa informação, de que tipo de alunos estamos a falar. Currículo regular, currículos alternativos ou cursos de educação e formação? Houve alunos a mudar do currículo regular para um dos outros?
 
Que raio de título é aquele? Há 1000 novos bons alunos? Não percebi a parte dos “bons alunos” na informação estatística fornecida. Parece mais um título altamente conveniente do que um título para o resto da informação.
 
Já agora, é este o remédio para a Educação em Portugal? Vai abrir um concurso nacional para colocar mediadores em todas as escolas? O que é que aqueles 70 mediadores descobriram ao lidar com 6000 casos de eminente insucesso? Quais foram os “factores de risco” detectados?
 
O Estado Português parece concordar que a solução para combater os “factores de risco escolar” é remediá-los com mediadores, em vez de ir à raiz desses “factores” e fazer uma intervenção social consequente?
 
Se Maria de Lurdes Rodrigues defendia tanto que a má prestação dos professores é que estava na origem do insucesso escolar no nosso país, escapa-se-me porque não aproveitaram antes os mediadores para intervirem junto dos professores, de chibata em riste e sobretudo negro?

 

publicado por pedro-na-escola às 22:40
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Estória mal contada I

 

Clinton Global Initiative
Projecto português de combate ao insucesso escolar apresentado em Nova Iorque
23.09.2009 - 07h43 Lusa
O projecto português “Mediadores para o Sucesso Escolar”, que permitiu aumentar em 14 pontos percentuais o sucesso escolar de alunos do ensino básico, é hoje apresentado como um “case-study” na conferência Clinton Global Initiative, em Nova Iorque.
 
A iniciativa, da Associação EPIS - Empresários Pela Inclusão Social, analisou no ano lectivo 2007/2008 cerca de 20 mil alunos dos 7º e 8º anos de escolaridade de 88 escolas de dez concelhos parceiros, seleccionando depois cerca de seis mil em risco de reprovação, que foram apoiados por uma equipa de 70 mediadores.
 
“No primeiro período do ano lectivo 2007/08, mais de 80 por cento destes alunos tinham três ou mais negativas, portanto em situação de reprovação. Ano e meio depois, a taxa de sucesso escolar deste grupo de seis mil estudantes passou de 63 por cento para 77 por cento”, resumiu o director-geral da EPIS.
 
Segundo Diogo Simões Pereira, os mediadores trabalham fundamentalmente na escola, realizando com os alunos sessões de 30 ou 60 minutos, durante os intervalos e antes e depois das actividades lectivas. “Os primeiros temas a abordar nas sessões prendem-se com o estabelecer de uma relação de confiança. Abordam-se os problemas, as ansiedades, os comportamentos em relação à vida. Nestas idades, os alunos têm normalmente muitas questões existenciais, dificuldades na gestão das críticas. É uma dimensão bastante comportamental”, explicou o responsável.
 
Por outro lado, acrescentou, em parceria com as famílias, os mediadores ajudam na criação de rotinas de organização do tempo dos alunos: de higiene, de descanso, de estudo, de pausa, por exemplo, mas sempre a focar o desempenho escolar.
 
Outro tema trabalhado é o da metodologia de estudo. Os mediadores ajudam na selecção das matérias, na preparação para os testes e na gestão das ansiedades antes e depois das provas. “É um trabalho muito grande de enquadramento, em ligação directa com a escola, directores de turma e família, quando necessário. Trata-se fundamentalmente de uma metodologia de ajuda e de capacitação. Depois verificamos se há mudança de atitude e se essa mudança se reflecte nas notas do aluno”, resumiu o director-geral da associação.
 
Depois da “qualidade” dos resultados alcançados ao fim de um ano e meio, a EPIS já abordou novos concelhos para o alargamento do projecto, em parceria com as autarquias e Ministério da Educação: “O desafio fundamental é massificar este tipo de metodologias e aplicá-las num projecto-piloto maior”. “Se funciona com seis mil alunos pode funcionar com muitos mais”, afirmou.
 
Este projecto será divulgado hoje durante a V edição da Clinton Global Initiative, uma conferência que decorre em Nova Iorque de 22 a 25 de Setembro.
 
Chamar a isto uma estória mal contada, não é má vontade. A sério.
 
Sem projecto algum, apenas porque é assim que acontece nas escolas portuguesas (da realidade que eu conheço) o salto percentual do sucesso do 1º período para o 3º período costuma ser bem mais que 14%! Ou estarei a fazer mal as contas?...
publicado por pedro-na-escola às 21:20
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Domingo, 30 de Agosto de 2009

Objectivos mínimos

 

Ainda a propósito do programa eleitoral do PSD para a Educação, saquei esta prioridade:
 
“Privilegiaremos, em relação ao (in)sucesso estatístico, a definição e verificação, preferencialmente por entidades exteriores à escola, de objectivos mínimos para o respectivo ano ou ciclo de estudos, com o objectivo de estimular a aprendizagem e apontar exemplos de sucesso.”
 
Digo eu, que sou escutado pelo Estado, sobre assuntos relativos à Educação, como se a minha profissão fosse barbeiro, que isso dos objectivos mínimos é mais do mesmo, na patética onda dos números.
 
Para combater, mesmo, mesmo, mesmo, mesmo, o insucesso estatístico, o que o Estado tem de fazer – e este é o único caminho racional, a meu ver – é acabar com alguns direitos! A saber:
 
- Acabar com o direito dos alunos a não quererem aprender!
 
- Acabar com o direito dos alunos a prejudicarem as aprendizagens dos colegas, bastas vezes com reflexos negativos para o resto do percurso escolar destes.
 
- Acabar com o direito das famílias a que os seus rebentos “andem” simplesmente na escola, sem qualquer outro dever.
 
publicado por pedro-na-escola às 23:35
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Quarta-feira, 15 de Julho de 2009

Não foi bem 63,8%

Consta por aí que houve 63,8% de sucesso no exame nacional de Matemática em 2009. Que até aumentou, pois no ano passado teria sido apenas 55,1%.
 
Eu diria que não foi bem assim.
 
Ora, numa escola como a minha, cerca de um terço dos alunos do 9º ano frequenta um CEF e, por isso, não fez o exame nacional. Seria de esperar que, caso estes alunos do CEF fizessem o exame nacional do 9º ano, a esmagadora maioria teria negativa. Em 100 alunos, 63,8 tiveram positiva, mas estes 100 alunos não são o total, pois representam, apenas, dois terços dos alunos do 9º ano, ou seja, os que estão no currículo regular. Assim, haveria, ao todo, 150 alunos, 100 no currículo regular e 50 no CEF. Destes 150 alunos, 63,8 teriam sucesso no exame nacional de Matemática, que, em percentagem, corresponderia a 42,5% de sucesso.
 
Mas, não querendo ir tão longe, consideremos que apenas um quarto dos alunos do 9º ano frequenta um CEF. Seguindo o mesmo raciocínio, havendo 100 alunos no currículo regular, haveria um total de cerca de 133 alunos no 9º ano, sendo que apenas 63,8 teriam sucesso no exame nacional, ou seja, cerca de 48% de sucesso.
 
Em linhas gerais, vivemos num país em que, na prática, mais de metade dos alunos que terminam o ensino básico não domina convenientemente a Matemática. Parece que sempre assim foi, embora hoje se consiga disfarçar muito bem.
publicado por pedro-na-escola às 08:18
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