Com a escolha de Nuno Crato para liderar a Educação deste país, fiquei curioso quanto aos ditos e escritos deste senhor antes de ter sido escolhido. Na expectativa, obviamente, de lhe perceber a alma. Porque, uma coisa, é a opinião de uma figura algo pública; outra coisa, é a opinião de alguém que vai pegar nos destinos da Educação – ou, para ser mais curto e grosso, de alguém que terá a oportunidade de mudar efectivamente o nosso país.
Apontam-no como opositor do chamado “eduquês”, que até escreveu um livro sobre o assunto. Parece que é visto como a figura que poderá libertar as escolas do jugo do “eduquês”.
Curiosamente, e depois de ler as opiniões mais populares de Nuno Crato, fiquei com a impressão de que ele próprio é – infelizmente – um defensor de uma versão mais alargada do “eduquês”.
Esta versão, mais alargada, resume-se num pensamento único: o “eduquês” é uma forma crónica de inventar soluções para problemas que não existem e é sistematicamente aplicado por quem está desfasado da realidade.
A “teoria do coitadinho” e as “dificuldades de aprendizagem” são exemplos crónicos. Soluções para um miúdo que é rotulado de coitadinho, mas não é, ou que tem dificuldades de aprendizagem, mas não tem.
Querer associar os resultados de exames ao desempenho dos professores, é mais um caso crónico de “eduquês alargado”. Teoricamente, faz sentido, em especial num contexto imaginário em que os alunos são todos iguais e estão disponíveis para aprender (nas aulas e no estudo). O contexto real, que Nuno Crato aparenta desconhecer, é bem diferente: os alunos são todos diferentes e abundam os que não estão disponíveis para aprender.
No contexto real, o professor bem sabe que, bastas vezes, o nível 2 de um aluno num exame do 9º ano, é o fruto proveitoso do seu trabalho ao longo de um ano (ou mais) – visto por uma entidade externa como um mau resultado (logo, mau desempenho do professor), só o próprio professor (e os seus colegas do conselho de turma) sabe que foi uma vitória, porque o resultado mais expectável seria o nível 1, tal era a indisponibilidade do aluno...
A paranóia com a prova de ingresso na carreira docente, porque isso iria melhorar os resultados dos alunos, é outro sinal de desfasamento. Teoricamente, faz sentido, mas, na prática, não há prova de selecção que valha face a um grupo de alunos definitivamente indisponíveis para aprender.
A ver vamos, onde iremos parar…
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