Segunda-feira, 7 de Setembro de 2009

Caro Dr. João Freire

Caro Dr. João Freire
 
Li com atenção o seu texto intitulado “Educação: o destino de uma política”, publicado no jornal Público em 7 de Setembro de 2009.
 
Na minha qualidade de professor, e estando também ligado à gestão e administração da minha escola, gostaria de tecer alguns comentários a partir do seu texto.
 
1. As qualidades que reconhece em Maria de Lurdes Rodrigues, não são reconhecidas pela generalidade das pessoas, em especial pelos professores. Pessoalmente, vejo nela uma pessoa capaz de se manter fiel a uma linha de pensamento e actuação – uma qualidade invejável, tenho que confessar -, mas não mais que isso. Mas, a minha preocupação diária é o objecto da minha profissão e não quem está politicamente a dirigir o Ministério da Educação, portanto, adiante.
 
2. Como professor, isto é, como profissional que diariamente transmite conhecimentos e competências aos jovens que serão, um dia, o futuro da nossa nação, lamento que os conteúdos curriculares continuem na mesma. Não percebi o que entende por “confrarias” académicas, mas, infelizmente, as alterações curriculares são, geralmente, fruto da satisfação de caprichos de gente alheia ao dia-a-dia das escolas. Os conteúdos das disciplinas baseiam-se numa patética cultura de quantidade, que obriga os professores a manterem, ao longo do ano, uma corrida contra-relógio para a leccionação de todos os conteúdos. Afinal, é essa a base da mentalidade nacional: quanto mais, melhor.
 
3. Lamento as suas considerações sobre o suposto “combate político”. O que aconteceu, ao longo destes anos, transcendeu, em muito, a coligação de sindicatos, as minorias activas, os partidos de oposição e os meios de comunicação social. E não teve nada que ver com a sua ideia de “vitimização dos docentes”. É uma boa tentativa, a sua, de atirar as culpas para os sindicatos, as minorias, os partidos e a comunicação social, mas nunca estas frentes teriam sucesso sem o principal da questão. E, a bem dizer, o principal da questão foi mesmo a série de patetices atiradas às escolas e aos professores pelo reinado de Maria de Lurdes Rodrigues! Não há sindicato, minoria, partido ou comunicação social que consiga chegar aos calcanhares do sentimento na pele que atingiu escolas e professores. No seu caso, compreendo que não perceba o que nós, professores e escolas, sentimos na pele, já que vive num mundo alheio à realidade escolar, mas foi isto que fez a diferença nesse seu “combate político”.
 
4. Discordo completamente da sua ideia de que os resultados educativos derivam, em grande medida, da qualidade do professorado. Se, até hoje, não percebeu porque é que Portugal está tão na cauda nesta matéria, duvido que venha a perceber, até porque isso parece ser mais uma posição formatada do que propriamente um conhecimento de causa. No entanto, deixo-lhe aqui os comentários de uma aluna francesa, que veio parar, de pára-quedas, na nossa escola: lá em França, os professores não têm boas relações com os alunos como aqui; não percebo como é que os alunos portugueses não aprendem, quando os professores explicam tantas vezes a mesma coisa e há tantas aulas de apoio – só quem não quer é que não aprende.
 
5. A propósito de uma suposta excessiva complacência para com uma minoria de profissionais incompetentes e desajustados à função, tenho a dizer-lhe que Maria de Lurdes Rodrigues conseguiu o que, num mundo racional, seria impossível, ou, no mínimo, inadmissível: promover administrativamente vários desses profissionais incompetentes, dando-lhes o pomposo cognome de “professores titulares” e concedendo-lhes a sensível missão de avaliar os restantes profissionais. É a isto que se chama ter “inteligência global e aplicada”?
 
6. Os passos concretos e decisivos, dados por Maria de Lurdes Rodrigues, foram marcados por uma série de patetices e medidas precipitadas, atabalhoadas e mal feitas, cabendo-lhe um descrédito crescente, ao que acresce a forma descarada como as leis foram ignoradas e atropeladas em função de novos interesses. Talvez lhe pareça mal, da minha parte, colocar as coisas desta forma, por isso, cabe-me apresentar exemplos: patetice foi a promoção a titular de professores incompetentes; patetice foi a criação de quotas na avaliação, quando o fim deveria ser a existência de quotas na progressão (são coisas completamente opostas, mas quem vive noutro mundo confunde-as facilmente); medidas precipitadas, atabalhoadas e mal feitas, foi o pseudo-modelo de avaliação, a campanha Magalhães, o Estatuto do Aluno e o concurso para professores titulares, assim de repente, medidas não testadas, não preparadas, sem formação; atropelos à lei?, bastou ouvir, da boca de directoras regionais, que se deve tolerar o escandaloso excesso de faltas dos alunos nos CEF, ultrapassando o legal, o possível e o imaginário, a bem do desígnio do combate ao abandono, quando há limites legais para a formação profissional. Ao longo destes anos, confesso que o que me tem incomodado mais é o lançamento apressado e mal preparado de medidas novas com objectivos pouco claros e racionais.
 
7. O “problema” da Educação, no nosso país, não se resolve nas escolas. Se cuidar de investigar a Educação em países que estão na linha da frente neste tema, poderá reparar – a menos que não esteja interessado em reparar – que todos têm um traço comum: o papel e a postura da família perante a escola. É precisamente neste aspecto que Portugal peca em maior grau, sendo que a Maria de Lurdes Rodrigues coube a pouco nobre tarefa de piorar, ainda mais, o papel e a postura da família perante a escola, quer denegrindo a imagem dos professores aos olhos do público, quer aligeirando, substancialmente, a exigência do nosso sistema de ensino para com os seus alunos, tanto ao nível dos conhecimentos, como ao nível da assiduidade. As turmas de percursos curriculares alternativos e os cursos de educação e formação, que proliferam, a um ritmo assustador, nas nossas escolas, e que muito jeito dão para efeitos estatísticos de sucesso educativo, são apenas uma forma descarada, ou camuflada, conforme o observador, de qualificar de forma positiva o insucesso de uma parte significativa da nossa população. Porque o verdadeiro insucesso continua! Continuamos a ser um país onde abunda a iliteracia e a ignorância, defeitos que, depois da passagem de Maria de Lurdes Rodrigues, passaram a dar direito a diploma!
publicado por pedro-na-escola às 21:27
link | comentar | favorito

Educação: o destino de uma política

por João Freire, in jornal Público, 7 de Setembro de 2009

 
Chega ao final mais uma experiência de reforma no sector da educação, que poucas vezes terá suscitado tão acirradas discussões e tais reacções sociais.
 
Cada qual terá a sua apreciação desta gerência e da situação em que nos encontramos. Mas, sobre a ministra Maria de Lurdes Rodrigues - figura central deste processo só por manifesta cegueira se não lhe reconhecerão três patentes qualidades: inteligência global e aplicada, coragem, autocontrole pessoal. Outra virtude instrumental, no palco impiedoso onde a política -se faz: ter assegurado uma coesão sem falhas na direcção política do seu ministério. Em contrapartida, terá ficado "nas mãos" do PS para assegurar o preenchimento dos postos mais importantes da sua burocracia central e regional - o que é sempre uma má coisa, embora seja vício antigo da nossa democracia. E, logicamente, submeteu-se às conveniências ditadas pelo primeiro-ministro na gestão global da governação.
 
Quanto às orientações tomadas, julgamos que elas terão sido, no essencial, as necessárias e adequadas para responder aos principais défices do sistema de ensino instalado, possivelmente com excepção, ou dúvida persistente, no que toca aos níveis de exigência apontados para a obtenção do “sucesso escolar” (graus de dificuldade dos exames, modos de progressão, "programa novas oportunidades", etc.), o que é uma questão difícil e certamente não apenas do foro da escola. E houve também a "abstenção" de mexer nos conteúdos curriculares e na organização das disciplinas, que é sempre a tentação de cada novo ministro ou o sentido da pressão que sobre ele exercem as várias "confrarias” académicas, apesar de ser também matéria decisiva.
 
Como é óbvio, algumas dessas medidas não terão sido as melhores, ou terão mesmo errado o fim a que se propunham, mas, globalmente, era preciso mexer na organização dos tempos escolares e na forma de gestão das escolas, enquadrar os professores num regime mais rigoroso de carreira profissional e de controlo da sua actividade (essencialmente inter pares}, concentrar e equipar melhor u parque escolar, alargar a escolaridade "para baixo" (pré-primário) e "para cima" (secundário profissionalizante) -  em cada um destes grandes objectivos foram dados passos concretos e decisivos, embora naturalmente agora sujeitos a correcções de pormenor ou de aplicação.
 
Num plano, contudo, a gerência de Maria de Lurdes Rodrigues acabou por falhar estrondosamente: no terreno do combate político, onde foi vencida pela coligação dos sindicatos de professores e minorias activas neste meio profissional, partidos de oposição ao Governo, alguns meios de comunicação social e, finalmente, pelo sucesso da estratégia de vitimização dos docentes que aqueles primeiros actores conseguiram empreender com grande eficácia, acabando por criar no seio das comunidades professorais um sentimento de injustiça, orfandade ou mal-estar próprio para que aderissem em bloco às directivas das suas lideranças sócio políticas.
 
É evidente que, num ambiente democrático, uma profunda reforma da instituição escolar não pode ter sucesso sem a participação activa do corpo docente. É também verdade que as escolas viviam sobretudo da competência e empenhamento de um bom número dos seus docentes (alguns deles agora desencorajados), mas não é menos certo que os seus resultados educativos, globalmente insuficientes, derivam, em grande medida, da qualidade do professorado, onde a filtragem da admissão era quase inexistente, a progressão profissional irrestrita, a atomização dos desempenhos a regra, existindo ainda uma excessiva complacência para com uma minoria de profissionais incompetentes e desajustados à função. De certa maneira, o confronto desenvolvido entre a política avançada pelo ministério e a frente sindical dos professores tinha subjacente o conceito de uma profissão procurando estruturar se, hierárquica e funcionalmente, no espaço do ensino e da organização escolar versus o modelo de uma ocupação massificada, em parte segura do seu emprego e estipêndio (porque há sempre "precários" disponíveis para atender às flutuações conjunturais), essencialmente regulada pelas regras burocráticas da antiguidade e dos concursos documentais nacionais para a atribuição dos postos de trabalho mais apetecidos.
 
Um governo presidido pela dra, Manuela Ferreira Leite que acumulasse também a pasta da Educação, devido à sua experiência do lugar e pela importância que tem para o futuro do país, ou a sua ocupação pela dra. Ana Benavente, o dr. Santana Castilho ou o professor Mário Nogueira - apenas para citar alguns dos mais encarniçados críticos públicos desta reforma -, separadamente ou em conjunto, que diferente e melhor política educativa poderia propor e realizar, a não ser a co-gestão do imobilismo que marcou a actuação de sucessivos ministros? Ou alguém terá a coragem de pôr em causa o sistema público unificado de ensino? No momento presente, uma questão importante parece ser a de como, face à maré eleitoralista e populista, serão conservados ou desaproveitados os esforços dos últimos anos para melhorar o desempenho da educação e a qualificação, humana, cidadã e profissional, da população.

 

 

E isto tudo para dizer o quê? Não vote PSD?

 

publicado por pedro-na-escola às 19:13
link | comentar | favorito

Trabalhar mais

No site da RTP, assisti a uma entrevista da Antena 1 a Maria de Lurdes Rodrigues, no programa “Este Sábado”, no dia 5/9/2009.
 
Fica o link, caso ainda funcione:
http://tv1.rtp.pt/programas-rtp/index.php?p_id=3468&e_id=&c_id=1&dif=radio
 
Ela fala, fala, fala, e para quem a ouve mas não percebe do assunto, até fala muito bem.
 
Já no fim, o jornalista questiona-a sobre o Português e a Matemática.
 
Gostei, particularmente, sobre a parte da Matemática, ou não fosse eu dessa área. Em especial sobre a brilhante conclusão da senhora ministra sobre o sucesso na disciplina: é preciso estudar e trabalhar mais. Ela não o disse claramente, talvez por vergonha, mas parece-me que estava a falar dos alunos. E deu o exemplo dos miúdos que, quando vão para as explicações, isto é, quando são obrigados a trabalhar mais, passam do insucesso ao sucesso. Terá descoberto a pólvora? Em vésperas de eleições, não usou a lenga-lenga de que os professores é que precisam de trabalhar mais, como era seu hábito. Não há nada como a vizinhança de eleições para mudar radicalmente a orientação do discurso desta gente...
 
A questão é: os professores sempre souberam e avisaram que esse é o verdadeiro problema da Matemática; assim sendo, o que é que, concretamente, foi feito para combater esse problema?
 
Nada! Inventou-se um Plano de Acção da Matemática para atirar areia para os olhos do povo e entreter as escolas a apanhar migalhas. Pior: ofereceram-se computadores com Internet aos jovens, para poderem passar a vida a jogar e a navegar em redes sociais em vez de estudarem...
 
Sobre o Português, chegou-lhe aos ouvidos que um dos impedimentos para a resolução de problemas de Matemática é a interpretação da língua materna. Novidade? Só se for para ela, que vive à margem da realidade.
 
Não há Plano Nacional de Leitura que valha a família. O problema com o Português – tal como maior parte dos problemas na Educação – não se resolve na escola, mas em casa. Em lares onde os livros, os jornais e a leitura estejam banidos, não há escola que chegue para resolver o problema. Tal como tudo o resto, a solução passa por exigir às famílias uma mudança radical de postura e de hábitos.
publicado por pedro-na-escola às 14:43
link | comentar | favorito
Domingo, 6 de Setembro de 2009

Um milhão de esforçados

 

 
Perto de um milhão de inscritos no Novas Oportunidades
O programa para certificação de competências Novas Oportunidades regista actualmente 950 mil inscritos e perto de 300 mil aderentes já obtiveram um diploma do 9º ou do 12º anos de escolaridade, de acordo com números fornecidos pela ministra da Educação.
Maria de Lurdes Rodrigues presidiu no Porto à entrega de diplomas no âmbito da iniciativa Novas Oportunidades a 80 formandos de empresas nacionais.
Os diplomas resultam de protocolos de cooperação que foram estabelecidos com empresas portugueses, nomeadamente com a Sonae Distribuição, a Martifer Inovação e Gestão, a Transtejo - Transportes Tejo, o Grupo Jerónimo Martins, o El Corte Inglês e a Portugal Telecom.
«Apesar de haver muitas vozes que anunciam o facilitismo deste processos, os formandos sabem bem que não é fácil», afirmou a ministra ao discursar perante os formandos.
Na mesma cerimónia foram ainda assinados três novos protocolos de cooperação com a Prosegur, Companhia de Segurança Unipessoal, Lda., os Laboratório Medinfar - Produtos Farmacêuticos e a Direcção-Geral de Reinserção Social.
Até ao momento foram celebrados 50 protocolos de cooperação que, segundo fonte do gabinete de Maria de Lurdes Rodrigues, «espelham o envolvimento das empresas portuguesas nas estratégias de qualificação dos seus recursos humanos».
in http://sol.sapo.pt
 
Nunca trabalhei num processo de certificação das Novas Oportunidades. Mas já dei uma mãozinha a alguns dos funcionários da minha escola que andavam nas Novas Oportunidades, resolvendo-lhes problemas de Matemática e Informática com um grau de dificuldade tão baixo que me deixou perplexo.
 
Mas, pelos comentários e estórias de alguns colegas, ou porque estavam a trabalhar num Centro Novas Oportunidades ou porque também deram uma mãozinha a alguém que estava a aproveitar estas oportunidades, o conceito de “não é fácil” é de uma relatividade improvável. Não ser fácil, é ter que ir ao CNO de vez em quando. Não ser fácil, é ter que fazer um dossier com umas tangas. São “dificuldades” assim que levaram muitos a desistir das Novas Oportunidades.
publicado por pedro-na-escola às 22:39
link | comentar | favorito
Sábado, 5 de Setembro de 2009

Porquê?

 

“Na verdade, mais importante do que os programas é a sua aplicação e transparência: a possibilidade de acompanharmos o que é decidido, porquê, por que valores e com que finalidade. Ora isso em Portugal nunca acontece.
A avaliação dos professores é exemplar. Todos os partidos dizem coisas que, na verade, não querem dizer coisa nenhuma. O PS fala em "consolidar", o PSD em "suspender" o sistema. O que os dois dizem é óbvio e previsível. Mas eu gostava de saber era porque é que se escolhe o modelo A e não o modelo B de avaliação, com base em que experiência, quem monitoriza a sua aplicação, com que regras e consequências. Duvido sinceramente que isso vá acontecer.” (…)
Ricardo Costa, www.expresso.pt
 
Valores? Finalidades? No caso da avaliação dos professores, não há valores… apenas finalidades! Bem se viu, pela fantástica quebra nas despesas com vencimentos no Ministério da Educação.
 
Não houve experiência de modelo algum. Muito provavelmente, não interessaria experimentar.
 
A monitorização é fácil: está tudo a correr com tranquilidade.
 
Regras e consequências? Pois sim! As regras ditaram que grande parte dos professores com mais de 18 anos de docência pudessem ser promovidos por critérios puramente administrativos, tendo, como consequência, que não lhes fosse reconhecida qualquer autoridade para coordenarem e avaliarem.
 
Também duvido que alguma coisa seja bem feita.
publicado por pedro-na-escola às 22:30
link | comentar | favorito
Quinta-feira, 3 de Setembro de 2009

Quem aconselha na Educação?

Os programas eleitorais na área da Educação, seja de que partido for, não são assim tão importantes quanto outro aspecto, a meu ver. É que, a bem dizer, um programa eleitoral é um conjunto de intenções genéricas, mas, o que importa mesmo, é, na prática, o que se vai fazer, que decisões se vão tomar, que medidas se vão implementar, e como!
 
Importante é:
 
1. Quem fará parte da equipa ministerial – ministro e secretários de estado?
 
2. Com quem é que esta equipa se aconselhará, para elaborar medidas?
 
A ideia é esta: é preciso conhecer muito bem o meio (ensino básico e secundário) para se poder decidir medidas acertadas e eficazes. Um docente do ensino superior, por mais que esteja ligado à Educação (às míticas Ciências da Educação), não conhece o meio, isto é, não lida com os alunos e com as respectivas famílias, não lida com casos de sucesso e casos de insucesso, não lida directamente com o direito que muitos alunos têm de não quererem aprender e não sabe o que se passa dentro das salas de aula. No entanto, os docentes do ensino superior fartam-se de dar conselhos… ou não? O mesmo se passa com os teóricos que trabalham no próprio Ministério da Educação, encerrados em gabinetes, alheios à realidade.
 
Mais: ouvir apenas um professor de uma determinada escola, é meio caminho andado para a asneira. Eu posso divagar sobre a realidade da minha escola, mas esta não é a realidade de todas as escolas – há situações piores e melhores. Esta panóplia de realidades tem de ser conhecida, ao detalhe, por quem faz parte da equipa ministerial.
 
Por norma, fazem-se opções e escolhem-se pessoas de forma tonta. Por exemplo, pretendendo rever o currículo nacional de determinada disciplina, há que cuidar de que as pessoas que lideram o processo provêm de escolas com realidades bem distintas e opostas. Não me pareceu que isso tivesse acontecido com a revisão do currículo da Matemática, para a coisa dar em irem buscar conteúdos do 11º ano e espetá-los no ensino básico.
publicado por pedro-na-escola às 11:57
link | comentar | favorito

Os ouvintes

 
“Mais do que ouvir a Ministra, os Professores ouvem os seus representantes, os Sindicatos e agem com a raiva que estes lhes transmitem. Mais do que ouvir os Professores, no terreno, nas aulas, nas Escolas, a Ministra tem ouvido sobretudo os Sindicatos.” - Vera Santana, in http://simplex.blogs.sapo.pt/
 
Esta senhora, Vera Santana, que escreve num blog de gente pró-PS, escreve de acordo com a entoação dos cânticos da linha Sócrates. Ainda houve tempos em que eu pensava que Sócrates era um homem sério e honesto, apesar dos tiques, mas isso já lá vai.
 
Então, para a Vera, aqui vai:
 
1. Depois de ouvirem as primeiras mensagens da senhora Ministra, os professores nunca mais a levaram a sério. Ela fala, fala, fala, mas os professores não lhe ligam. É uma mulher que, por despacho dominical, e depois de umas sessões de capoeira, alterou uma lei e fez de conta que estava apenas esclarecer os milhares de professores que não teriam percebido a lei. Alguém, no seu perfeito juízo, leva esta mulher a sério? Claro que não!
 
2. Os professores, a bem dizer, nunca foram de ouvir piamente os seus sindicatos. Com o devido respeito pelos sindicatos, indispensáveis ao saudável funcionamento da sociedade, à Ministra correu mal a vida porque os professores começaram a ouvir-se uns aos outros. Foi assim que se juntou aquele impressionante mar de gente numa manifestação em Lisboa, o tal mar que a comunicação social, por artes mágicas, quase que fez de conta que não existiu.
 
3. Quanto à raiva, tenho a dizer-lhe que a minha própria mãezinha, professora aposentada e muito orgulhosa da sua profissão e do que fez pela pátria durante várias décadas, a ensinar as criancinhas a ler, escrever e fazer contas, sentiu no coração a ferroada das primeiras mensagens da senhora Ministra, em jeito de facada nas costas. A raiva da minha mãezinha, aposentada como milhares de outros, nasceu da boca da senhora Ministra e não dos sindicatos que o PS tanto odeia.
 
4. Para que saiba, a senhora Ministra, como é habitual nos ministros desta pasta, não ouve quem está no terreno e nas aulas! Entre a Ministra e o terreno e as aulas, há um impressionante mundo de gente que vive numa dimensão paralela, imaginando o terreno e as aulas, inventando soluções para problemas que não existem e agravando os que de facto existem.
 
5. Que sentido faz aludir a uma pretensa qualidade de boa ouvinte dos sindicatos, quando a linha Sócrates se baseia numa imagem pública de determinação cega? Quando se está cegamente determinado, não se ouve ninguém!
publicado por pedro-na-escola às 09:41
link | comentar | favorito
Quarta-feira, 2 de Setembro de 2009

Contratação de escola disponível a fingir

Depois de conseguirmos colocar alguns horários para técnicos especializados na aplicação da contratação de escola, apesar de terem estado desaparecidos da nossa vista, depois de conseguirmos exportar as candidaturas e feito a análise curricular, chegou o momento de seleccionarmos os candidatos.
 
A esta nobre tentativa de contratação de profissionais para a importante missão de formar os futuros homens e mulheres deste país, a aplicação da DGRHE para a contratação de escola responde assim: “Funcionalidade não disponível de momento!
 
É uma coisa mesmo bonita de se ver…
 
Cambada de…
 
Enfim!...
tags:
publicado por pedro-na-escola às 23:46
link | comentar | favorito

A mulher das dificuldades de comunicação

 

«Tivemos muitas vezes um clima em que toda e qualquer medida ou anúncio era sempre tomado como ataque à condição dos professores ou como negativo para o sistema educativo. Há dificuldades de comunicação, entendimento e de percepção das medidas, e isso não é um problema exclusivamente dos sindicatos» - palavras da Ministra da Educação, captadas por jornalistas da TSF na Escola Secundária de Albufeira, a 02/09/2009.
 
Uma medida tomada como um “ataque à condição dos professores”? Nada disso! Muitas medidas foram, de facto, um ataque ao bom senso de qualquer profissional.
 
Inventar uma ideia de avaliação em que há profissionais que têm uma determinada pontuação pelo seu desempenho, mas que depois recebem uma menção (que é o que conta e não a pontuação) inferior, só porque há aquela aberração das quotas, é um ataque ao bom senso dos professores e à sua condição profissional.
 
Distribuir, quase que gratuitamente, a condição de avaliador a profissionais que não foram, eles próprios, avaliados, correndo-se o sério risco – em vários casos, confirmou-se mesmo – de o avaliado ser um bom profissional que é sujeito à avaliação de um mau profissional, é um ataque ao bom senso dos professores e à sua condição profissional.
 
Dividir os professores em duas pseudo-carreiras, promovendo à “mais alta” os professores mais idosos, por puro procedimento administrativo, anunciando aos quatro ventos que estava a ser criado um “corpo qualificado de docentes”, é um ataque ao bom senso dos professores e à sua condição profissional.
 
Um anúncio tomado como “negativo para o sistema educativo”? Nada disso! Foram anunciadas medidas realmente negativas para o sistema educativo.
 
Convencer a regressar às escolas centenas de vândalos, com o único propósito de fazer um brilharete estatístico ao nível do abandono escolar, é mesmo uma medida negativa para o sistema educativo.
 
Remodelar um Estatuto do Aluno em função do supremo interesse estatístico, abolindo, disfarçadamente, as faltas de qualquer espécie, é mesmo uma medida negativa para o sistema educativo.
 
Meter no mesmo saco alunos que se estão nas tintas para a escola (eles e os pais) e alunos com dificuldades de aprendizagem, insinuando ao povo que o remédio santo para todos eles é o plano de recuperação ou acompanhamento, é mesmo uma medida negativa para o sistema educativo.
 
Obrigar as escolas a alimentar as “aulas de substituição”, fazendo crer que, com isso, há um benefício estrondoso, quando, na verdade, contribui para o aumento de situações de indisciplina e falta de “válvulas de escape” para os alunos, é mesmo uma medida negativa para o sistema educativo.
 
Oferecer gratuitamente, ou quase, computadores a milhares de alunos, que, assim, receberam do Estado um brinquedo caro com que gastam todo o tempo e mais algum, incluindo o que deviam dedicar ao estudo, é mesmo uma medida negativa para o sistema educativo.
 
E por aí fora.
 
Coisa que não houve, de certeza absoluta, foi dificuldades de comunicação! Os professores entenderam as medidas na perfeição e percepcionaram o alcance de cada uma e os seus obscuros objectivos.
 
Quanto aos sindicatos, o grande problema com o Governo Sócrates foi, precisamente, os sindicatos terem sido ultrapassados pelos próprios professores.  
publicado por pedro-na-escola às 21:38
link | comentar | favorito

Cambada de aldrabões…

Algures em www.expresso.pt, numa notícia com o título: Sócrates promete "restaurar confiança com professores".
 
"Porventura falhámos aí nessa forma de nos explicarmos. Deixar criar a ideia de que nós fizemos isso contra os professores é tão infantil, nunca esteve no nosso espírito. Se isso aconteceu, farei tudo o que estiver ao meu alcance para corrigir isso", disse [Sócrates].
 
Esta hilariante falta de subtileza do primeiro-ministro é lançada a público poucos dias depois de a Ministra da Educação ter assumido que foi pela sua mão (deste governo, portanto) que foi lançada a guerra (por oposição à paz, entenda-se) aos professores.
 
Ou seja, nenhuma medida do governo na área da Educação foi feita contra os professores (xi, que cena infantil…), apesar de se lhes ter declarado guerra e a ainda ministra achar que é um erro tentar comprar-se a paz com eles, ainda por cima por um preço que o país não pode pagar… A mesma fulana que não pareceu nada incomodada por ter perdido os professores…
publicado por pedro-na-escola às 00:03
link | comentar | favorito

~posts recentes

~ E a Terra é plana…

~ A propósito dos melhores…

~ A propósito de oportunida...

~ A propósito das paranóias...

~ Especialistas em educação

~ O que vai ficar por fazer

~ Nuno Crato e a definição ...

~ Mega-Agrupamentos 4 - a p...

~ Mega-Agrupamentos 3

~ Mega-Agrupamentos 2

~ Mega-Agrupamentos

~ O segredo do sucesso nas ...

~ A anedota da vaca

~ Por falar em reduzir as d...

~ Agressividade de autores ...

~ Brincando às competências...

~ Pois, realmente, não foi ...

~ Contas ao número de aluno...

~ Reforço da autoridade dos...

~ Incompetência ao rubro...

~links

~arquivos

~ Julho 2011

~ Junho 2011

~ Maio 2010

~ Abril 2010

~ Março 2010

~ Novembro 2009

~ Outubro 2009

~ Setembro 2009

~ Agosto 2009

~ Julho 2009

~ Junho 2009

~ Maio 2009

~ Abril 2009

~ Fevereiro 2009

~ Janeiro 2009

~ Dezembro 2008

~ Novembro 2008

~ Outubro 2008

~ Abril 2008

~ Março 2008

~ Fevereiro 2008

~ Janeiro 2008

~chafurdar no blog

 
RSS