Domingo, 27 de Abril de 2008

A mania dos objectivos 2

“(…) O documento que prevê as linhas gerais deste novo regime de avaliação integrado, a que o DN teve acesso, avança que, até Outubro de 2008, o Governo vai apresentar, em forma de relatório escrito, uma proposta da nova avaliação na Judiciária. Sendo que uma das medidas concretas passa por manter a estatística referente à taxa de processos com proposta de acusação, que não pode ser inferior à verificada em 2007.  
Investigadores contra
 
Contactado pelo DN, o presidente da Associação dos Funcionários de Investigação Criminal (ASFIC), Carlos Anjos, considera que este regime geral tem de ser adaptado à realidade da investigação criminal e que a PJ tem de ser avaliada em função da "qualidade e não da quantidade". E acrescenta: "Como pode a PJ ser avaliada em função das acusações que são feitas pelo Ministério Público, depois de sair das mãos da polícia? A única coisa que a PJ pode fazer neste sentido são propostas de acusação."
 
Uma ideia que foi igualmente criticada pelo Ministério Público: "A efectivar-se, parece-me questionável e preocupante", disse ao DN o presidente do Sindicato do Ministério Público (SMMP), António Cluny. As razões apresentadas são semelhantes às de Carlos Anjos: "Como pode a polícia ser avaliada em função do número de acusações que são da responsabilidade do Ministério Público?" Cluny lembra que a PJ não "pode adivinhar o que o MP vai fazer com a sua investigação". Ou seja, se deduz acusação ou arquiva o processo. (…)” in Diário do Notícias
 
Lá estou a ver semelhanças doentias com a Educação
 
A ganância desesperada e grosseira pela quantidade, em detrimento da qualidade…
 
Avaliar resultados que dependem de outras esferas de vivência…
 
Sinceramente, esta mania de avaliar por objectivos parece tirada de uma qualquer empresa americana de venda de aspiradores porta-a-porta!
publicado por pedro-na-escola às 09:36
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Sábado, 26 de Abril de 2008

A mania dos objectivos

Hoje, o Público noticiava a revelação de Paulo Portas sobre os objectivos dos inspectores da ASAE:  
De acordo com o documento, precisou Paulo Portas, cada inspector daquela direcção da ASAE "tem que detectar 124 infracções, levantar 61 processos de contra-ordenação, que vão terminar em coimas, abrir oito processos-crime e fechar ou suspender o funcionamento de pelo menos seis estabelecimentos". "E até têm de, por instrução central, fazer, pelo menos, duas detenções de pessoas", frisou.
Não sei porquê, nem se erradamente, mas isto faz-me lembrar os objectivos individuais que a ministra deseja para os professores. Não é fazer fiscalização o que importa, mas levantar e abrir processos, fechar estabelecimentos e prender pessoas. Não é adquirir competências e conhecimentos que interessa, nos nossos alunos, mas transitarem de ano com sucesso. Sou só eu que vejo uma certa analogia doentia nisto?
 
Independentemente de Paulo Portas ter ou não provas irrefutáveis de que este tipo de objectivos existe na ASAE, há, nesta notícia, um pormenor muito curioso, que me delicia: é o comentário do povo! Ainda bem que há Internet, para tomarmos o pulso ao povo.
 
O povo, para meu espanto (sou mesmo ingénuo, caramba!), na sua maioria não acha este tipo de objectivos escandaloso. Aliás, até bate palmas, não fosse os inspectores tornarem-se preguiçosos e não fazerem o que lhes compete. O povo acha aceitável que um inspector entre por um estabelecimento dentro já com a intenção de levantar um processo-crime, ou fechá-lo ou prender alguém, para poder atingir os seus objectivos antes que o prazo acabe. Nem que, para isso, tenha que chegar um exagero extremado e irracional.
 
E nós, professores, termos que fazer transitar X alunos, tenham ou não conhecimentos e competências para transitarem. Não é ensinar que importa, o que importa é passar X alunos. Não interessa fiscalizar, importa é aplicar multas.
 
Estamos na era em que o sumo é feito de números e tudo o resto são grãos de poeira levados pelo vento…
publicado por pedro-na-escola às 21:42
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Quarta-feira, 23 de Abril de 2008

O fantástico 75

Já está cá fora, para entrar em vigor hoje mesmo, dia 23 de Abril de 2008. O fantástico 75! Apela-se, por aí, ao boicote a este decreto-lei nas escolas. Eu, sinceramente, não vejo a necessidade de se avançar com uma alteração ao modelo de gestão das escolas, mas a senhora ministra precisa de apresentar obra feita, seja qual for.
 
Na minha escola, não vai haver boicote. Este é o primeiro ano de mandato do conselho executivo a que pertenço, depois de dezassete anos em que, à frente do CE, esteve alguém que não se imaginava a fazer outra coisa que não fosse ser presidente do conselho executivo. Tipo chefe de uma pseudo equipa, cujos membros iam rodando ao longo dos anos, com aspirações a director ou gestor, se o deixassem. Nunca ter havido uma lista a concorrer “contra ele” em eleições para o conselho executivo, pode dizer muito. Afastado abruptamente, através do democrático acto eleitoral, foi obrigado a dar aulas, não conseguindo esconder um profundo rancor por todos os que “conspiraram” para o afastar. Rancor tal, que frequentemente se reúne com os seus fiéis seguidores – dois ou três gatos pingados -, detentores de cargos de coordenação de departamento, para dar instruções sobre como infernizar a vida aos que o afastaram. A situação não deixa de ser patética, pois toda a gente sabe o que se passa, estando de um lado esses dois ou três gatos pingados, e do outro praticamente todos os restantes professores da escola.
 
Com a entrada em vigor do novo modelo de gestão, pensava ele quão excelente seria se ele ainda estivesse no poder. Excelente, porque a facilidade com que se pode perpetuar o poder, daqui para a frente, tanto pode servir para o bem como para o mal. Aliás, ainda ele estava no poder e já fazia “ameaças” sobre o tempo que viria, em que a escola seria comandada por um gestor – na figura da sua pessoa, presumia – que podia e disporia a seu belo prazer, como se todos os profissionais da escola fossem simples marionetas nas pontas dos seus dedos.
 
A oportunidade, finalmente chegou, embora não seja ele que esteja no poder. Para o seu regresso triunfante, basta que, para o conselho geral, seja eleita uma lista de sete professores e dois funcionários que o aplaudam. Porque, a bem dizer, o resto do conselho irá a reboque. E é pelo receio desta situação que não vai haver boicote na minha escola. Vai fazer-se uma lista de professores – os tais que quiseram ver o ex pelas costas – para a eleição para o conselho geral, por forma a que, quando chegarem as candidaturas a director, não se vá fazê-lo regressar à escola.
 
Eu sei que isto é um pensamento pouco democrático, mas, convenhamos, o fantástico 75 pode ter tudo menos espírito democrático. É que, a bem dizer, escolhido o director, o único acto democrático daí para a frente será a eleição para o próprio conselho geral, o tal que vai começar por ser composto por 6 pais e 6 indivíduos alheios à comunidade escolar, num total de 12 votos contra os 9 dos “profissionais da casa”. Quem deseje ficar no poder, só tem que manobrar os cordelinhos para que os votos no conselho geral tendam a seu favor. Eternamente. Quem conseguiu que, durante dezassete anos, ninguém se atravesse a ir a votos numa lista oposta, também conseguiria manobrar os votos de um conselho em que a maioria dos membros não estão sob as suas ordens e que, por isso mesmo, dificilmente veriam necessidade de não votar nele.

Corro o risco de estar a sonhar com fantasmas, mas este modelo de gestão não me cheira nada bem. O que não entendo, mesmo, mesmo, mesmo, é em que parte deste modelo entra o reforço da democracia. Já se sabe que os membros do conselho geral são eleitos democraticamente (apenas 71% são eleitos, na prática) e que o director é escolhido (ou reconduzido no cargo) democraticamente por esses membros, mas…
 
… e se o primeiro-ministro português fosse eleito pelos votos de um grupo de pessoas?, sendo que 28,5% dessas pessoas eram estrangeiras, ou seja, não seriam governadas por ele, outros 28,5% dessas pessoas eram emigrantes, isto é, teriam interesses em Portugal, mas também não eram governadas por ele, e apenas 43% das pessoas eram portuguesas a viver em Portugal com interesses em Portugal e a serem governadas por ele. Ui, que democracia fantástica!!!...
publicado por pedro-na-escola às 22:45
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Quarta-feira, 9 de Abril de 2008

O custo por cabeça

A equipa de Avaliação Externa passou pela minha escola na semana passada. Foram uns porreiros, com um discurso construtivo, apontaram-nos as falhas, apontaram-nos os pontos fortes e ensinaram-nos muita coisa. E fizeram as contas ao custo anual que cada aluno da nossa escola tem para o Estado! Bem acima dos mil contos! Ou seja, e para que conste, o Estado gasta, anualmente, mais de mil contos com cada um dos nossos alunos. Entre ordenados de professores e funcionários, manutenção, consumíveis, água, luz, gás, etc. Mais de mil contos!
 
Sinceramente, não é o facto de serem mais de mil contos que me choca!
 
O que me deixa perplexo, chocado, indignado, sem jeito, é o Estado não exigir absolutamente nada em retorno! Nada, nada, nada! Basta ir para a escola e andar por lá. O Estado não exige resultados, não exige comportamento, não exige esforço, não exige educação! É o que se chama “dar de graça”! Esbanjar, literalmente, muitos milhares de contos por ano com alunos que não querem aprender e com famílias que se estão nas tintas para que os filhos aprendam ou não! É impressionante! Sabendo como é o ser humano, seria natural que se chegasse à conclusão de que a Educação não poderá melhorar, com credibilidade, sem que seja exigido – de facto – algo em troca dos mil e tal contos de investimento anual a cada aluno e respectiva família. Mas, não! Gasta-se, esbanja-se, deita-se ao lixo. É essa a sensação absurda que tenho ao ver as famílias que se estão nas tintas para os mil e tal contos que o Estado gasta com os seus filhos!
 
O Estado é mesmo palerma! É certo! É o mesmo que ter uma empresa e pagar a todos os trabalhadores, tanto os que trabalham muito, como os que trabalham pouco, como os que não fazem nada e pegam fogo às instalações da empresa e partem os computadores e batem nos outros trabalhadores e gozam à fartazana com o patrão. A escola não é uma empresa, mas, em sociedade, tudo pressupõe dar uma coisa para receber outra em retorno. Até o mais simples gesto de caridade funciona assim, pois se oferecermos uma sopa a um mendigo e ele se rir na nossa cara e ainda nos despejar a sopa em cima, o mais certo é não voltarmos a oferecer-lhe a sopa, pois o retorno esperado pela nossa dádiva era simplesmente ele comê-la. Até a mais simples boa acção pressupõe algo em retorno: a felicidade de sabermos que fomos úteis!
 
Em vez de uma simples sopa, o Estado oferece mais de mil contos, que são deitados ao lixo com o maior dos descaramentos! Era suposto o Estado reflectir e chegar à conclusão de que há aqui qualquer coisa que não bate certo e que nem sequer faz sentido num mundo racional. Era suposto o Estado mudar a sua postura perante a Educação, transformando-a numa obrigação, em vez de continuar a ser um simples direito.
publicado por pedro-na-escola às 22:07
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O problema começa aonde?

O problema começa aonde?
Porque será que os Professores Universitários se queixam, que os alunos chagam ás Universidades com falta de conhecimentos?
Porque será que os Professores do Ensino Secundário se queixam, que os alunos vem mal preparados dos 2ºs e 3ºs ciclos ?
Porque será que os Professores dos 2º ciclos se queixam, que os alunos para alem de serem pouco autónomos e organizados, trazem uma deficiente preparação do 1º Ciclo?
Estas questões pretendem-se fundamentalmente com avaliação e essa avaliação é feita através dos alunos!
Ora se os alunos são receptores e a sua recepção é deficiente, ou estamos perante problemas de ordem intelectual dos alunos, ou os emissores Professores, são incompetentes!?
Não seria difícil, pela ordem desta cadeia, arranjar o principal responsável das deficientes aprendizagens dos alunos.
Mas quanto a mim não é verdade, pois considero que os Professores do 1º Ciclo são aqueles, que melhor preparação têm para o exercício da sua Profissão!
Estas questões ilustram bem, que avaliação dos Professores não pode ser feita. sem serem equacionados os resultados dos seus alunos .
Não me venham dizer que esta constatação ou transferência de responsabilidade é falsa, porque eu tenho a certeza que não deve haver um Professor, pelo menos uma vez na sua carreira, que não tivesse feito um juízo de valor deste tipo, relativamente aos seus alunos.
in http://antifalsospedagogos.wordpress.com/2008/04/09/o-problema-comeca-aonde/ , by anti-tretas
 
É a velha questão da sequencialidade de ciclos, pois está claro! É uma tentação muito grande, culpar os que estão para trás. É como que um lugar comum em tudo! Na política, na educação, na saúde, etc. Concretamente, posso recorrer a dois exemplos para ilustrar o que penso sobre esta sequencialidade.
 
O primeiro exemplo, é sobre o meu próprio percurso escolar, que nunca foi brilhante nem nada que se lhe pareça. Curiosamente, não me recordo do salto entre ciclos. O 5º ano veio a seguir ao 4º, o 7º ano veio a seguir ao 6º, o 10º ano veio a seguir ao 9º e a universidade veio a seguir ao 12º ano. Não me recordo de choques ao mudar de ciclo, apesar de nunca ter sido um apaixonado pelos estudos. Era uma sequência natural e sem sobressaltos. Hoje, nota-se perfeitamente um choque ao entrar num novo ciclo. Nota-se, principalmente, o choque no 7º ano e no 10º ano, onde parece que uma grande parte dos alunos se espeta de fronha numa parede de betão armado, ficando às aranhas e reprovando facilmente.
 
O segundo exemplo, vem da minha própria mãe, antiga professora primária. Já no final da sua carreira, foi confrontada com mudanças radicais na Educação, naquela onda de renovação brilhante e meras teorias. Ora, após trinta e tal anos a exercer a sua profissão, ela tinha um know how razoável sobre a metodologia educativa, sobre crianças e sobre os pais das crianças. Quando as reformas lhe bateram à porta, trepou às paredes com o chorrilho de disparates imposto pelo Ministério da Educação. Lembro-me, pela primeira vez, de a ouvir falar, em tom de desespero, sobre o que se passava. Lembro-me perfeitamente, como se fosse hoje, de ela contar como teve umas quezílias com um inspector que não a largava (era a directora da escola), cuja missão era verificar que se implementavam, de facto, as reformas inventadas pelos iluminados do ME. A esse inspector, ela afirmou que, se fosse implementar aquilo que ele queria, os seus alunos iam começar a sair da escola primária sem saberem ler, nem escrever, nem fazer contas! Ao inspector pouco importava a opinião e o aviso de uma profissional com uma carreira quase completa, respondendo-lhe que ela não estava ali para pensar, mas, antes, para fazer o que lhe mandavam. A minha mãe reformou-se assim que pôde, passados poucos anos, desiludida com aquilo em que estavam a transformar o seu palco de acção nos últimos trinta e tal anos. Para pior!
 
No tempo em que a minha mãe era professora, parece-me que a avaliação dos professores era feita equacionando os resultados dos seus alunos. Era um tempo em que os professores exigiam trabalho e atitudes aos seus alunos, pois estavam legitimados pela tutela da Educação para o fazerem. Tanto os pais, como a sociedade, como os alunos, sabiam que esse era o papel do professor, pois só assim se conseguiria levar adiante a missão de ensinar, de instruir, de educar. Mas, eram outros tempos! As regras, entretanto, mudaram! Exigir trabalho e atitudes é apenas uma miragem. Prevalece o direito a tudo e o dever do nada. As regras assim mandam.
 
Os professores e os alunos de hoje são iguais aos professores e aos alunos de há 100 anos atrás. Mais quadro, menos telemóvel, muda o aspecto exterior mas a essência mantém-se. Mudaram as regras do “jogo” e são essas regras que determinam o maior ou menor sucesso de uma sociedade. Os países que têm melhores resultados, quando comparados com os nossos, são países que têm regras diferentes das nossas! Os professores e os alunos desses países não são melhores nem piores que nós, nem a nível de desempenho nem a nível intelectual, mas estão sujeitos a regras diferentes. E não se pense que a coisa se resolve com uma avaliação do desempenho dos professores, porque na Finlândia isso nem existe…
publicado por pedro-na-escola às 21:33
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Sexta-feira, 4 de Abril de 2008

O modelo até faz sentido

Assim por alto, e tirando a inclusão dos resultados escolares, o modelo de avaliação proposto pelo ME até faz sentido. Tenho que admiti-lo. Em determinada altura, enquanto ainda só tinha sido publicado o Decreto Regulamentar n.º 2/2008, resolvi trocar aquilo por miúdos e ficou bem mais simples que o mapa do Metro de Londres.
 
Trocado por miúdos, a escola tem objectivos, colocados por escrito no Projecto Educativo; cada professor escolhe, para a sua acção, objectivos individuais, isto é, aquilo que se propõe fazer como contributo para que a escola alcance os seus objectivos; no final do período de avaliação, o seu coordenador vai avaliar o grau de cumprimento dos objectivos a que se tinha proposto; o Presidente do Conselho Executivo avalia aspectos de índole mais administrativa, como as formações e a assiduidade; como exercício de reflexão pessoal, o avaliado redige uma ficha de auto-avaliação.
 
Na minha ingenuidade, imaginei objectivos individuais: utilização das TIC nas salas de aula, produção de materiais pedagógicos, dinamização de uma disciplina para os alunos na plataforma Moodle, organização de uma “feira das profissões”, etc. O coordenador iria verificar até que ponto o professor cumpriu com o que tinha proposto realizar. Até fiz um powerpoint todo simplex, para mostrar aos colegas!
 
Isto fazia sentido na minha cabecinha. Como modelo, não era nada de especial, embora deixasse de lado os deveres do professor e pecasse por aquele disparate do progresso dos resultados escolares. E também me fez confusão falarem nos objectivos do Plano Anual de Actividades, quando eu pensava que esses objectivos eram os do Projecto Educativo, mas, enfim, é o que dá inventarem tanta papelada.
 
Depois desta abordagem simplex, repleta de ingenuidade, o céu caiu à Terra e praticamente deixei de ver o modelo à frente. Começou com as quotas da avaliação, esse disparate anormal que transforma qualquer modelo de avaliação numa patetice à qual se pode chamar tudo menos avaliação. O modelo desapareceu e deu lugar às incríveis fichas de avaliação, um chorrilho de parvoíces que transformaram um modelo aparentemente simples e credível numa complexa rede de itens e dúvidas. Muitas dúvidas. E muitos disparates.
 
Rapidamente, surgiu no horizonte a oportunidade para muita gente experimentar o orgasmo intelectual múltiplo, ao poderem brincar aos orientadores de estágio com professores mais novos e mais antigos que os próprios. Às dezenas! Aliás, as fichas foram a oportunidade fantástica para muita gente se revelar. Perspectivaram-se logo vinganças sem conta, anunciadas sob a forma de ameaças e dedos apontados. O conceito educativo de “papel” tomou outra dimensão: a da “resma de papel”.
 
Mas, muito sinceramente, o modelo de avaliação do desempenho que vem no Decreto Regulamentar n.º 2/2008 desapareceu e deu lugar a uma brincadeirinha, feita de fichas e despachos e orientações e muitas dúvidas. E é contra essa brincadeirinha, que mais parece o enfiar de vinte rolos de papel higiénico pela sanita abaixo, entupindo-a, que a esmagadora maioria dos professores estão. Porque o modelo já foi à vida! Foi só uma desculpa para fazer aparecer as fichas de avaliação!
publicado por pedro-na-escola às 20:09
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Quinta-feira, 3 de Abril de 2008

Novo look do site da DGRHE

Já viram o novo look do site da DGRHE?

http://www.dgrhe.min-edu.pt/

Uma vida, uma carreira?
Sem comentários...

Publicidade enganosa?
Claramente!

A menos que o ideal "Uma vida, uma carreira" seja apenas para a DGRHE... alguma campanha de recrutamento de funcionários para a DGRHE? Deve ser. Só não sei para que é a equação atrás do senhor...

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publicado por pedro-na-escola às 21:24
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Posição das escolas do distrito da Guarda

Na reunião, não apareceram alguns, poucos, Presidentes dos Conselhos Executivos. Pelo que percebi, são os que terão andado à frente das tropas, num aceleradíssimo processo de produção massiva de papéis. Não se reviram nesta necessidade de a maioria dos PCE do distrito da Guarda se reunirem com o seu Representante no Conselho de Escolas.
 
Apesar de algumas pequenas divergências de pormenor, a sintonia geral apontava para uma actuação comum a todas as escolas, bem como uma crítica generalizada à complexidade absurda do modelo imposto pelo ME, gerador de tantas dúvidas, tantos imprevistos, tantos remendos. Uma crítica à forma muito pouco profissional e pouco séria com que se pretende, a uma velocidade irreal, implantar um modelo que não foi testado, que não foi comparticipado, e que gera tantas dúvidas na sua aplicação. E, obviamente, que reúne tanto desacordo quanto a alguns pontos.
 
Uma ideia também parecia ser generalizada: os PCE estavam ali, reunidos, acima de tudo, por causa dos seus professores contratados. A bem dizer, o ME chantageou descaradamente os PCE com a ameaça de desemprego garantido para os professores contratados que não fossem avaliados. Onde chega a baixeza!
 
Feitas as contas à vida, os PCE do distrito da Guarda decidiram definir uma actuação uniforme, sem contrariar as ordens do ME, ou seja, avançar com o processo de avaliação. Mas, pelos padrões mínimos, ou seja, contemplar apenas dois procedimentos:
 
1. Preenchimento de uma ficha de auto-avaliação baseada na versão proposta pelo ME, mas com seis dos catorze itens sendo de preenchimento facultativo e com uma pequena alteração na redacção de alguns dos itens. Esta ficha, por se constituir como um mero exercício de auto-reflexão do avaliado, não carece de comprovação documental por parte do avaliado nem de intervenção do coordenador.
 
2. Preenchimento dos itens A1 e A3 da ficha de avaliação do PCE (anexo XIII) e dos pontos 1, 6 e 7 do anexo XV.
 
Foi, também, elaborado um calendário comum para os passos necessários à implementação deste processo de avaliação, que culminará com a comunicação do resultado da avaliação até ao dia 15 de Julho.
publicado por pedro-na-escola às 21:18
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Quarta-feira, 2 de Abril de 2008

Eu teria dito que…

A propósito do “Prós e Contras” em que participou o Paulo Guinote, tenho pena do nível em que decorreu o debate. O tema aparentava ser a Educação, mas, como habitualmente, tratou-se daquele bicho misterioso que vive lá no além, a quem muitos insistem em chamar “Educação”. Tudo muito filosófico. Tudo demasiado além do real. Valeu a intervenção daquela fantástica professora de Matemática, mas, ainda assim, em pouco tempo se transformou em mais um caso pontual e insignificante, tal como o são todos os casos reais da escola pública portuguesa.
 
Eu gostava de lá ter estado, para poder abrir a boca. Provavelmente gaguejaria que nem um triste, ficaria roxo e tombaria para o lado em estado de bloqueio mental e estrabismo compulsivo.
 
Mas, se lá estivesse estado e conseguisse manter-me calminho e sereno como o Paulo Guinote, eu teria dito que...
 
1. Era escusado teorizar sobre o acontecimento na Carolina Michaelis. Agarrar um adulto à força, gritar com ele e tratá-lo por “tu” é pura e simplesmente inaceitável e completamente condenável. Nem numa tribo selvagem perdida numa qualquer selva equatorial uma cena destas seria aceitável. Ponto final.
 
2. Era escusado andar com aquele discurso idiota do telemóvel. Se não fosse um telemóvel, seria uma abóbora, uma nave espacial ou um caroço de azeitona. Ou nada. Os aparelhos tecnológicos são apenas mais um passo insignificante da História. Com telemóvel nas escolas ou sem ele, o ambiente das escolas, o insucesso, o desrespeito pelos adultos e pelos pares, continuarão todos na mesma onda. Ponto final.
 
3. Era escusado protagonizar tantos discursos em “Eduquês”. Porque qualquer dissertação mais longa sobre pormenores da Educação ultrapassa o razoável e o necessário e entra rapidamente no campo do desnecessário e do idiota. A Educação e o Ensino são processos que devem ser simples, tanto de viver como de explicar. Quando se complica, dando azo a que se escrevam livros inteiros para cada um dos pequeninos detalhes que fazem parte da Educação e do Ensino, começa-se a viajar para bem longe da realidade. Um pastor de cabras consegue ser melhor educador que um doutorado em ciências da educação. Ponto final.
 
4. Era escusado divagar sobre a ocorrência de indisciplina, de faltas de respeito, de violência e de outras situações indesejáveis, buscando justificações rebuscadas e patéticas. Essas situações ocorrem com frequência porque são permitidas, porque não são sancionadas, porque são aceitáveis, porque são sistematicamente desculpadas. Ponto final.
 
Enfim, às tantas foi melhor não ter estado por lá, mesmo sabendo que nunca teria essa oportunidade. Acho que tinha saltado da cadeira e batido em algumas pessoas. Se há coisa que me enoja e incomoda profundamente, é ouvir, em discurso directo, disparates de gente do planeta Marte comentando a gastronomia do planeta Mercúrio, pensando que estão a falar sobre a cor do papel higiénico do planeta Saturno. 
publicado por pedro-na-escola às 16:16
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Terça-feira, 1 de Abril de 2008

Eles não sabem do que falam

Hoje, houve espaço para que, em algumas aulas, se abordasse o “Prós e Contras” de 31 de Abril de 2008, no qual esteve presente o colega Paulo Guinote. É nestes momentos que, por vezes, somos surpreendidos.
 
Numa turma de Currículo Alternativo, constituída por alunos com um percurso escolar pouco feliz, ali pelos 15 anos e ainda no 7º ano, o debate da RTP1 e o vídeo da Carolina Michaelis foram abordados de forma rápida e concisa, tirando os alunos conclusões e fazendo comentários, a saber:
 
1. O telemóvel foi um protagonista insignificante no vídeo. O que chocou foram as atitudes da aluna: agarrar a professora e tratá-la por "tu". Inaceitável, segundo os miúdos. Estes miúdos!
 
2. A professora deveria ter expulsado a aluna da sala? Gargalhada geral dos miúdos. Uma aluna daquelas não sairia da sala, obviamente. A professora deveria ter chamado um funcionário para expulsar a aluna? Nova gargalhada geral. Se a aluna não obedece à professora, porque iria obedecer a um funcionário?
 
3. Sobre os intervenientes do “Prós e Contras”: mais uma gargalhada geral. Eles não sabem do que falam!
 
E são miúdos! A ignorância e o disparate que marcam, sistematicamente, as intervenções públicas de quem não faz ideia do que se passa numa escola do ensino básico, foram ridicularizadas por uma turma de miúdos a quem os estudos pouco ou nada diz. Ainda assim, têm olhos na cara e não vivem num mundo à parte.
publicado por pedro-na-escola às 22:27
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