Sexta-feira, 29 de Fevereiro de 2008

Alguém pediu propostas?

Outro dia, em http://antifalsospedagogos.wordpress.com:
“Não será através do sucesso dos alunos que se vê a qualidade profissional do Professor? Se os Professores defendem as suas qualificações profissionais para o exercício da profissão, porque é que a produção de resultados é tão deficiente? É certo que eles justificam a problemática do insucesso escolar, com factores exteriores à sua responsabilidade, mas também não apresentam propostas para alterar esta situação.
O ensino é um processo de construção, através da influência indirecta de um sujeito que tem de estar consciente de seu papel social, que respeite e saiba lidar com as diferenças… com a consciência efémera, de ter de ultrapassar obstáculos, de transformação e de acção. É urgente, que o Sistema Educativo identifique as causas do insucesso, de forma que as gerações futuras sejam mais capazes que as passadas, de dar respostas imediatas e qualificadas aos problemas que surgirem.”
 
Duas respostas às perguntas:
 
1. Não será através do sucesso dos alunos que se vê a qualidade profissional do Professor? Depende. Se todos os alunos quiserem aprender, se todos os pais destes alunos quiserem que eles aprendam, se todos os pais exigirem resultados aos seus filhos, se o professor tiver meios para obrigar a aprender o aluno que não quer, se nas aulas houver ambiente propício às aprendizagens, então, sim, pelo sucesso e pelos resultados dos alunos vemos a qualidade profissional do professor. Melhor que tudo, era os alunos serem todos iguais, tipo boneco insuflável com computador de bordo.
 
2. Porque é que a produção de resultados é tão deficiente? Porque não tem que ser eficiente! Os alunos não têm que aprender. Aliás, os alunos nem têm que nada… basta-lhes andar por ali, pelas escolas, a arrastar as sapatilhas… e agora até podem tirar as férias que quiserem, que o prejuízo é quase nulo.
 
Um comentário:
O Sistema Educativo ainda não identificou as causas do insucesso? Não? Se não, com base em quê foram lançadas tantas medidas, nas últimas décadas e agora? Os profissionais do sistema educativo já identificaram as causas do insucesso, mas quem manda não quer mexer numa palha nessas causas. Porque mexe com o excesso de direitos e o défice de deveres. Porque mexe com votos.
 
Um desafio:
É certo que eles justificam a problemática do insucesso escolar, com factores exteriores à sua responsabilidade, mas também não apresentam propostas para alterar esta situação.
 
Quereis propostas? Tomai:
 
1. Penalizações pecuniárias e fiscais para as famílias que não revelem autoridade sobre os seus filhos no que toca a desempenho e comportamento na escola.
 
2. Obrigatoriedade de conclusão (com aproveitamento) do 9º ano e registo individual de aluno “sem cadastro”, para obtenção de qualquer tipo de carta de condução (aplicável aos cidadãos nascidos depois de 1992).
3. Obrigatoriedade de conclusão (com aproveitamento) do 9º ano para poder trabalhar (em qualquer regime) em qualquer sector profissional (aplicável aos cidadãos nascidos depois de 1992).
 
Não pode ser assim? Claro que não. Em Portugal, tudo são direitos, incluindo a educação! Quando a educação passar a ser um dever, aí teremos mudanças consequentes.
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publicado por pedro-na-escola às 08:11
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Quinta-feira, 28 de Fevereiro de 2008

Tudo o que quer saber - parte 5

Comentário:
“Mas ainda não perceberam que temos um sistema de ensino realmente medíocre e que qualquer medida com intenção de melhorar não pode resultar em pior ensino? Senhora ministra, ponha as medidas em prática, que agradar a todos os gregos e a todos os troianos não é de todo possível. Premeiem o mérito, avaliem com justiça, que os resultados tardarão, mas vão aparecer. Com a balda a que temos assistido, não queremos conviver mais, não é próprio da UE. Mas, por favor, resistam à tentação de orientar os resultados só para as estatísticas, porque essas contam a história que quisermos. Boa sorte, ela costuma proteger os audazes. Saudações.”
CM, Lisboa
 
Esclarecimento:
Já toda a gente percebeu que temos um sistema de ensino realmente medíocre. Ou talvez não tanto. Tem grandes falhas e compromete o futuro e a competitividade do país, isso sim. Permita-me discordar: as medidas com intenção de melhorar podem, de facto, resultar em pior ensino! Podem, se quem as inventa não faz ideia do que está a fazer! Podem, se quem as inventa não sabe o que é uma escola, o que é uma turma de alunos, o que causa o insucesso e o abandono. Podem, se, tal como apontou, inventa as medidas numa perspectiva de “orientar os resultados só para as estatísticas”. Premiar o mérito é louvável, mas fazer de conta que sim, é que não. Avaliar com justiça, claro que sim, mas avaliar injustamente, com parâmetros pouco claros e muito suspeitos, é que não. De facto, não é próprio da UE a balda que se está a instalar no ensino em Portugal. Pior que a balda, é a farsa declarada e pública. Caminhamos a passos largos para um pior ensino, em Portugal. Pena que a sociedade portuguesa seja feita de cegos, em vez de gente com olhos na cara. Cegos, surdos, mudos e completamente esquecidos.
publicado por pedro-na-escola às 15:17
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Quarta-feira, 27 de Fevereiro de 2008

O exercício da comparação

Preparem-se Portugueses. Ainda não viram nada. Pelo andar da carruagem ainda vão ver coisas como: os juízes avaliados pelo número de condenações proferidas; os bombeiros pelo número de fogos que apagam; os médicos pelo número de vidas que salvam; a brigada de intervenção da GNR pelo número de "bastonadas" que dá... Enfim, podia ser uma lista interminável de ridículos…” 
Este era o comentário de alguém num jornal online, a propósito da avaliação do desempenho dos professores. Gostei, particularmente, da comparação com os médicos: serem avaliados pelo número de vidas que salvam. Gostei, porque há semelhanças evidentes. A começar, pelo misterioso interesse político em que os médicos fossem avaliados por esse indicador. Seria para mostrar estatísticas? Seria para ocultar deficiências do sistema? A capacidade e os conhecimentos para salvar vidas, não podem ser encaradas como obrigatoriamente consequentes em termos de resultados. Não há milagres! Não se pode obrigar um corpo humano completamente destruído a sobreviver, da mesma forma que não pode um professor obrigar um aluno a aprender, quando ele não quer mesmo aprender. Tal como não pode o médico ligar alguns órgãos vitais a uma máquina, deitando fora o resto do corpo, e pavonear-se que o seu paciente sobrevive, também o professor não deve atestar que um aluno sabe, quando não sabe mesmo, só para que alguém, lá em cima, se encha de vaidade por ter tantos alunos a transbordar de uma suposta sabedoria.
publicado por pedro-na-escola às 08:01
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Terça-feira, 26 de Fevereiro de 2008

Prós e Contras - 3

A exposição arriscada da ministra foi, também, acompanhada de uma exposição arriscadíssima dos professores presentes. Arriscadíssima porque estamos debaixo da mira da opinião pública que, a meu ver, ainda não se decidiu.

Tal exposição da nossa parte, implica uma responsabilidade acrescida para cada movimento e cada palavra. As palavras têm que ser bem medidas, a entoação de voz bem controlada e a postura global inabalável.

A minha mãezinha, antiga professora primária, começou a deitar as mãos à cabeça quando vieram as primeiras reformas grosseiras na Educação. Pegou-se com os inspectores por ver o descalabro em que iam terminar as medidas impostas e, quando argumentava que as crianças iam começar a deixar a quarta classe sem saberem ler, escrever e fazer contas, os inspectores respondiam-lhe que ela estava ali para obedecer e não para pensar. Reformou-se assim que pôde, desiludida com o sistema para o qual trabalhou toda a sua vida, e nunca mais deu mostras de esperança nas sucessivas mudanças e pontapés no nosso sistema de ensino. Outro dia, a propósito das manifestações de professores na rua, comentou comigo a falta de postura profissional dos professores, que era demasiado evidente nas imagens da TV. Olhei para as imagens, olhei para ela, não percebi, mas ela explicou. É que nós, professores, por termos o papel de educadores, por nos passar pelas mãos toda a nação, temos que manter uma postura que nos torne em referências inquestionáveis para a sociedade, tanto para crianças, como para jovens e também para adultos. Não podemos ir por aí fora, pelas ruas, a cantar, a guinchar, a galhofar, a fazer palhaçadas e a falar para as câmaras de televisão com a mesma linguagem e a mesma entoação que teriam os participantes de uma manifestação de operários do balde de massa. O povo vê e faz contas. Demorei algum tempo até conseguir digerir estes comentários da minha mãe. Mas percebi onde queria chegar. Por causa disso, preocupou-me o desempenho que os nossos colegas iriam ter naquele estúdio, ontem.

A Fernanda Velez foi frontal e objectiva, durante praticamente todo o debate. Tiro-lhe o chapéu e adorava tê-la como colega na mesma escola. Lamento o deslize de postura quando se envolveu numa peixeirada escusada com a ministra. Quando duas pessoas começam a falar ao mesmo tempo, continuando, continuando, levantando a voz e continuando, a isto, chama-se uma peixeirada. Era escusada! Sei que não é nada fácil estar na posição em que ela estava, havia muita pressão e este deslize não lhe tira mérito algum. Passei a ser um seu fã. Mas, fica o reparo.

Descalabro profundo foi mesmo a intervenção de outra colega, da plateia, junto ao jovem colega de Matemática, que borrou por completo todo o debate. Lamento bastante que tenha perdido a cabeça e dado aquele triste espectáculo, como se fosse um arruaceiro de treze anos a saltar em cima da mesa na sala de aula, indignado por a sopa da cantina ter legumes. Será que não teve noção do que fez? Não teve noção que foi advertida várias vezes e que tiveram que lhe desligar o microfone? E, mesmo assim, ainda continuou a falar, a falar, a falar… Deu cabo da nossa imagem perante a opinião pública! Marcamos pontos numas coisas e perdemo-los estupidamente noutras.

Não podemos descer ao nível do senhor da CONFAP, a espumar de raiva e a gritar pelo Salazar. Sabemos fazer melhor que isso. Sabemos estar. Temos que o mostrar, sem deslizes.

publicado por pedro-na-escola às 23:30
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Prós e Contras - 2

O que faltou dizer sobre o modelo de avaliação do desempenho? Para mim, faltou um discurso organizado sobre a posição da classe docente em relação ao modelo.
 
Faltou dizer por que motivo queremos ser avaliados. A opinião pública critica-nos porque, supostamente, não queremos ser avaliados. Nós reagimos, indignados, argumentando que não, não é nada disso, nós queremos ser avaliados. A opinião pública insiste que não queremos, nós respondemos que queremos. Bola para lá, bola para cá. A ministra deve pensar que isto é uma anedota muito proveitosa para os seus intentos.
 
Acho que temos um discurso patético que só abona em favor da ministra, a salvadora da pátria, que, a mando do mandante supremo, vai finalmente implementar um sistema de avaliação do desempenho dos professores, o tal que faltava há 30 anos.
 
Eu, que sou barbeiro, teria posto as coisas da seguinte forma, ali, frente a frente com a ministra, catapultado para os lares de milhares de portugueses:
 
1. Apesar de ter havido, durante estes anos todos, um sistema de avaliação do desempenho dos professores, este não era um sistema que, de facto, penalizasse os maus profissionais e premiasse os profissionais acima da média. A norma era correr toda a gente a “satisfaz” e ponto final. É um facto e todos os professores têm essa noção. Ficava-nos bem assumir esta realidade.
 
2. É um facto que, como em todas as profissões, há bons profissionais e maus profissionais. Nas nossas escolas, há bons professores e maus professores. Nós, os professores razoáveis e os professores bons, não queremos conviver com maus professores, não queremos que manchem a nossa reputação e não queremos que sejam tratados profissionalmente como se fossem razoáveis. Mas, quando falamos de maus professores, estamos a falar de quantos? Fazendo contas por alto, às escolas por onde passei e aos maus professores com quem convivi, apontaria a coisa para 1 em cada 40, algo como 2,5%. Nada que contribua, efectivamente, para a vergonhosa posição em que está o ensino português no panorama mundial.
 
3. Queremos ser avaliados, porque queremos que os maus professores sejam afastados, seja por uma péssima formação moral ou por uma descarada falta de brio e empenho, e, aproveitando a onda, queremos que haja professores a quem seja reconhecido o seu mérito, o seu exemplo, o seu empenho e a sua dedicação, sem ser necessário pedinchar por tal.
 
4. O modelo lançado pelo ME não é recebido com credibilidade pelos professores, porquê? Três factores são o bastante:
 
a) Pressupõe um corpo de elite altamente qualificado, os fantásticos professores titulares, encarregues de avaliar todos os outros, que foram promovidos a esse posto sem mérito efectivo. Em vez disso, chegaram lá por pouco mais que uma simples contagem de tempo de serviço e sem terem sido avaliados, sendo óbvio que, e à parte das competências e formação necessários para avaliar outros professores, entre tantos titulares encontrar-se-ão dos que fazem parte daqueles 2,5% a afastar.
 
b) Nenhum sistema de avaliação que tenha quotas pode ser chamado “sistema de avaliação”. As quotas podem usar-se para acessos e progressões, conforme as necessidades e as vontades políticas, mas nunca podem condicionar as avaliações em si. Um avaliador não pode ter numa mão a avaliação isenta do seu avaliado e na outra uma fasquia que não pode ultrapassar, sendo que esta última obriga a mexidas na primeira, retirando toda a credibilidade e profissionalismo ao processo, por uma grosseira adulteração de números. Tal e qual como se eu, enquanto professor, tivesse um número máximo de quatros e cinco para dar aos meus alunos, no final do ano.
 
c) O modelo foi atirado às escolas de uma forma extremamente atabalhoada e pouco profissional, com uma agressividade muito irracional. Os professores são peritos em avaliar alunos, nas suas disciplinas, mas não foram formados para avaliar professores, nem das suas disciplinas, e muito menos de outras alheias. Pretende-se que façam uma tarefa sem terem tido formação para tal. O modelo pressupõe uma escola modelo, que corresponde a apenas uma fatia da realidade, deixando em aberto dezenas de dúvidas na sua aplicação, com inúmeras lacunas, tal como se pôde verificar pela quantidade impressionante de questões deixadas no Fórum da DGRHE. Faltou um Conselho Científico a funcionar e os bois foram ultrapassados pela carroça. Faltaram matérias por regulamentar e os bois foram ultrapassados pela carroça. Que está por detrás desta pressa enorme que levou à estipulação de prazos irrealistas para a implementação, a meio de um ano lectivo?
publicado por pedro-na-escola às 22:42
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Prós e Contras - 1

Ontem perdi metade da terceira parte do espectáculo, quando a transmissão via site da RTP saltou do “Prós e Contras” para outra coisa qualquer, assim de um momento para outro, inexplicavelmente. Não ter TV em casa dá nisto.
Sobre o espectáculo em si, sobram-me dois comentários:
1. Perdeu-se uma oportunidade de ouro para, de forma eficaz, dar uma machadada fatal nesta trapalhada de modelo de avaliação, tanto no seu conteúdo, como na sua implementação no terreno.
2. Continuo perplexo com o acontecimento em si – o espectáculo. Ingenuidade ou ignorância da minha parte, não sei, mas acho que tudo aquilo foi muito estranho. Uma ministra, ali, enfiada num estúdio com uma multidão de professores assanhados, ladeada por um desastre universitário e apoiada por meia dúzia de batedores de palmas. Em vários blogs leio que a jornalista e moderadora foi tendenciosa e manobrou o debate a favor da ministra, os meus colegas na escola partilham dessa opinião, mas eu, sinceramente, não vi nada disso. Os professores intervenientes tiveram tempo de sobra para deitarem tudo cá para fora, foi-lhes dada essa oportunidade por várias vezes e, para mim, era quanto bastava. Que jogada da ministra foi aquela? Que foi ela ali fazer, assim, sozinha?  
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publicado por pedro-na-escola às 21:48
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Tudo o que quer saber - parte 4

Comentário:
“Dá vontade de rir e ao mesmo tempo é nojento todo este barulho: só em 2 palavras! Os professores não querem reformas, querem tudo como estava, ou seja, poucas horas de trabalho e no final de carreira ter reformas de 300 contos e mais, enquanto um desgraçado do trabalhador que produz para o país é sempre o infeliz em tudo. O PCP luta e faz barulho enquanto houver funcionários públicos, se deixar de existir acaba, porque no sindicato são sempre os mesmos, nunca os vi a trabalhar e estão a encher a barriga à custa de quem trabalha para o progresso do país.”
Anónimo, Aveiro
 
Esclarecimento:
Não consegui contar as duas palavras, por isso peço desculpa se não entendi o seu comentário em toda a plenitude e alcance. Os professores gostavam de ser actores de umas quantas reformas, sim. Porque a realização profissional é um desejo da esmagadora maioria dos profissionais de todas as áreas onde a actividade não seja desenvolvida em regime de pseudo-escravatura e seja pautada por alguns direitos. Porque ser pago para ensinar e educar quem não quer aprender e acha que a educação é uma patetice, não traz realização profissional a nenhum profissional. Porque querer ensinar e educar os filhos de quem acha que a formação e a educação são desnecessárias, é como trabalhar para aquecer. É muita presunção da sua parte alarvar o conceito de trabalhador para apenas algumas profissões. Quase que fico a pensar que o senhor é da opinião que quem cava as batatas é trabalhador mas quem faz contas às batatas que tem já não é. Sobre produtividade, é bom que saiba que há muito para além de cavar batatas, quando falamos de produtividade. E tudo o que vai para além disso, exige conhecimentos. É bom que saiba que, para haver esses conhecimentos, foi preciso que alguém ensinasse as pessoas a ler, a escrever, a fazer contas e a interpretar, para começar. A educação e a formação, tal como é bem sabido nos países mais evoluídos, são o ponto de partida para o progresso de qualquer país! É bom que saiba que são os professores que tratam dessa parte!
publicado por pedro-na-escola às 07:59
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Segunda-feira, 25 de Fevereiro de 2008

Tudo o que quer saber - parte 3

Comentário:
“Indignados estamos nós, Pais deste Portugal, de aturar estes Sindicalistas sempre contra tudo e todos. Os senhores vão em mais uma palhaçada de manifestação e os alunos? Estes senhores não têm que estar e muito bem, na escola até às 17h30 como qualquer funcionário público? Ainda querem mais privilégios de não serem avaliados? Força senhora Ministra.”
Ribeiro
 
Esclarecimento:
Se a indignação partisse costelas… É natural que os sindicalistas estejam sempre contra tudo e todos. É esse o papel deles. Fica por definir o que é o “tudo” e quem são os “todos”, mas isso é um pormenor secundário. Mal ou bem, o senhor não deve ter a mínima consciência de que os direitos laborais que lhe assistem – sim, a si próprio – não caíram do céu, em tempos remotos, tipo reinado de D. Dinis. Esses direitos, ganharam-nos os sindicatos que tanto odeia. E à História não devemos menos do que respeito! Os senhores dos sindicatos, se têm despensa para poderem exercer esse direito constitucional, não têm que estar na escola. Assim como os senhores do(s) sindicato(s) que representa(m) a sua classe profissional. A menos que seja patrão e não faça ideia do que é ser-se trabalhador por conta de outrem. Já os professores não têm que estar na escola até 17h30, como qualquer funcionário público. Ao contrário de outras áreas do funcionalismo público, o local de trabalho dos professores não está preparado para que o este desenvolva aí toda a sua actividade. Na escola, os professores têm salas de aula para darem aulas, têm salas e gabinetes para se reunirem, cantina para almoçarem e uma ou outra mesa para partilharem com dezenas de outros colegas. Preparar aulas, pesquisar, fazer e corrigir testes, planear, criar, escrever, etc., são tarefas que têm que ser feitas em casa, porque a escola não está preparada para que as dezenas ou centenas de professores as façam no local de trabalho. Já dei aulas no ensino superior e aí, sim, tinha um gabinete partilhado com outro colega, onde podia facilmente desenvolver todo o meu trabalho, sem excepção. A menos que queira que os professores fiquem nas escolas todos os dias até às 17h30, amontoados, só para cumprirem um horário que algum iluminado pelos céus se lembre de impor, depois de ler comentários como o seu.
 
Comentário:
“Os senhores professores deviam era ter vergonha e trabalharem mais, pois ganham para isso. Talvez estejam esquecidos de que quem lhes paga somos todos nós. O governo só tem razão em mandar quem não quer trabalhar para casa.”
José Manuel Garcia Vieira
 
Esclarecimento:
Caro José, todos os maus profissionais deveriam ter vergonha, ponto final. Talvez não saiba, mas “nós”, os professores, também pagamos os nossos impostos, com base no nosso vencimento, e disso não podemos escapar, ao contrário de muitas profissões onde se pode trabalhar por conta própria e dar uma escapadela. Por tal, nunca esquecemos que também nós contribuímos para o vencimento de todos os professores! O governo devia ter razão em mandar para casa quem não quer trabalhar, sim, mas em todas as profissões! Sem excepção!
publicado por pedro-na-escola às 08:26
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Domingo, 24 de Fevereiro de 2008

Tudo o que quer saber - parte 2

Comentário:
“Depois de ler os comentários, só posso pensar que vivo na Suécia e que este governo é da Albânia... pois é, mas não é verdade, adoro ver como os professores se desresponsabilizam da situação actual, que é muito má, e vendem esta reforma como ainda pior!!! Não serão os professores intervenientes e, como tal, responsáveis da actual situação? Será que avaliar alunos pela taxa de sucesso não é pertinente? Será que quando os alunos não passam a culpa também não é dos professores? O governo devia era criar ainda mais competição nas escolas para se ver as que estão a fazer um bom trabalho e acabar com esta média por baixo que só prejudica os que se esforçam. Infelizmente os alunos que têm boas notas são os das escolas privadas, onde os professores não contestam, são avaliados e motivados pelos seus patrões, todos ganham.”
Anónimo, Londres
 
Esclarecimento:
Depois de ler o seu comentário, quer-me parecer que o senhor vive algures entre a Lua e uma galáxia distante. Os professores não se desresponsabilizam de nada, porque apenas cumprem com o que lhes é pedido pelo Ministério da Educação. Se o ME simpatiza com a ideia de os alunos transitarem de ano sem conhecimentos, que podem os professores fazer? Se o ME simpatiza com a ideia de os alunos não estudarem, faltarem às aulas e viverem numa folia constante, que podem os professores fazer? Se o ME simpatiza com a ideia de uma fatia grande dos alunos andarem na escola a prejudicar todos os outros que querem aprender e prosseguir estudos, que podem os professores fazer?
Quando os alunos não passam… bem, o senhor não deve fazer a mais pequena ideia do que é um aluno português, pois não? Então, se os pais do aluno se borrifam para que ele estude ou não, que ele se comporte com educação ou não, que ele tenha oito ou nove negativas, e, como é de esperar, o aluno também se borrifa para isso tudo, como é que um professor vai inverter a situação e fazer com que o aluno estude, tenha comportamentos civilizados, esteja atento e queira passar de ano? Ou, por acaso, imagina que os alunos que reprovam são todos muito estudiosos e aplicados e atentos e interessados e educados e a culpa é dos professores que não lhes ensinaram bem as matérias?
As escolas privadas, com bons resultados, não são frequentadas pelos mesmos alunos que as escolas públicas. Aliás, os alunos das escolas privadas, não as frequentam. Eles estudam nas escolas privadas! Que é bem diferente! Nas escolas privadas, não se encontram alunos cujos pais sejam indiferentes ao insucesso e ao abandono. Não se encontram alunos cujos pais queiram para os seus filhos um futuro profissional entre um biscate a apanhar cachos de uva e um biscate a varrer uma escada, ou biscate algum. Nas escolas privadas, os professores não trabalham para aquecer – trabalham para ensinar, educar e formar. Por isso os bons resultados.
publicado por pedro-na-escola às 08:50
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Sábado, 23 de Fevereiro de 2008

Tudo o que quer saber - parte 1

Comentário:
“Pois eu acho que sim, os professores devem ser avaliados e pagos conforme o seu desempenho, porque não se admite que os alunos portugueses estejam tão baixos nas médias dos países desenvolvidos... é uma vergonha e eu não acredito que as nossas crianças sejam menos inteligentes que as outras. Muitos professores e outros funcionários públicos só querem regalias... e trabalho, devagar com ele...”
Maria da Luz
 
Esclarecimento:
Folgo saber que acha que os professores devem ser avaliados e pagos conforme o seu desempenho. Resta saber o que quer dizer com “conforme o seu desempenho” e como é que isso se pode trocar por miúdos e converter em moedas. E também fico contente por achar que não se admite que os alunos portugueses ah e tal estejam cá no fundo da tabela. Não se admite, mas é essa a realidade. De facto, as nossas crianças não são menos inteligentes que as dos outros países, embora a classe política pareça resignar-se com esse falso pressuposto. O mais escandaloso disto tudo, de toda esta situação de fundo-da-tabela, é que estamos perante um país que desperdiça descaradamente um potencial intelectual enorme. Os nossos alunos – crianças e jovens – são, na sua maioria, inteligentes. Se a escola pudesse fazer aquilo para que existe – ensinar, educar, formar -, então, o nosso país em pouco tempo dispararia por ali acima, na tabela comparativa entre países. Mais, tabelas à parte, o país treparia em muitos aspectos, a começar pela malfadada produtividade de que tantos se queixam. Infelizmente, a escola portuguesa não existe para ensinar, educar e formar. Existe, para que os alunos a frequentem, mesmo que nada aprendam, mesmo que por lá ganhem todos os vícios, para que meia dúzia de pseudo-sumidades possam ir ao estrangeiro abanar a bandeirinha esfarrapada da escola inclusiva a vermelho e verde. É um desperdício descomunal! A saída do nosso país da “cauda da Europa” depende, única e exclusivamente, daquilo que a escola portuguesa conseguir fazer. E quem decide o que a escola portuguesa faz, é o Estado, personificado na pessoa do governo. Os professores, são apenas paus mandados. Quanto a os professores só quererem regalias e pouco trabalho… presumo que a senhora viva num mundo à parte, onde os trabalhadores não querem regalias para nada e adoram matar-se a trabalhar…
publicado por pedro-na-escola às 22:29
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